quarta-feira, 29 de junho de 2011

Dia a dia


Quando dou essa sumida daqui do blog é que tô imprimindo um ritmo violento. É na rua ouvindo gente, telefonando, levando fora, sentindo o calor do momento, sofrendo, bufando, pegando ar, coluna doendo, ombros pétridos, nuca tensa, pense.....uma agonia sem tamanho! Ufa...!

Sob certo olhar essa correria nos faz bem. Torna-se nosso termômetro. E a cada dia percebemos que o buraco é bem mais embaixo. No dia a dia mostramos do que somos capazes de suportar e de superar.

Estou fazendo um novo material especial e nesse novo trabalho tenho que ouvir pediatras. A maré quando não está pra peixe, não tem jeito. Tentei, pelo menos, dez profissionais na área para apenas falar na matéria...em vão. Quando um não podia falar resolvendo problemas familiares, os demais estavam viajando indo para um congresso. Gente, na boa. Ou a profissão tá dando muito din din, ou é a desculpa mais utilizada no meio médico.

Meu prazo está rolando e o tempo encurtando. Minha esperança é que o único profissional que me deu um pé de esperança possa mesmo me receber até a sexta-feira maldita. Pois bem, acontece. Começei a permear entre os grotões desta cidade sentindo a barra que é conviver com lixo, miséria, violência e medo. Nas favelas e grotas que entrei, o que vi foi desconfiança, receio e muito pudor ao falar comigo.

Mas a cada pessoa que conversava e mostrava a que vinha, as armas internas se desfaziam, o sorriso era mais fácil e o olhar era dentro do meu olho. Como é bom ganhar a confiança alheia. Sentir o pé firme no chão, saber onde se está pisando. A cada viela, beco, esquina e escada, crianças risonhas desconfiadas seguiam a mim, e o repórter fotográfico Sandro Lima, loucas por saber o motivo de minha presença. Quando eu falava, entrevistada, trocava uma ideia com meus personagens, era uma coisa. Sentia-me um extraterrestre. Coisas da vida.

Foco nesse meu trabalho para esquecer um pouco de meu cotidiano conturbado. Falecimento de tia, guerra espiritual, sonhos horripilantes, assustadores e alarmantes. Como sobreviver a isso tudo? A gente vai seguindo. Recomendaram-me ler duas vezes por dia o Salmo 91. É ele que me acalenta e é por meio de orações e preces que me sinto mais forte e limpo. Pois bem, amanhã é outro dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário