segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O pragmatismo e a modernidade




O jornalismo é algo tão mutante que a informação de segundos atrás já é velha. Ao terminar este post certamente, alguma informação que está rodando por ai em sites noticiosos, blogs e afins vai estar capenga, desde o momento que você começou a lê-lo. Agora como lidar com o pragmatismo que ainda impera no meio da comunicação. Dogmas quase clericais que jamais são ameaçados. Como ficar diante disso tudo? Se inclinar e ceder, ou simplesmente tentar nadar contra a maré.

Na história, o traidor é conhecido apenas pelo ponto de vista de quem conta a história ou de que tempo se fala a narrativa. Eu nem diria, traidor, mas sim vanguardista, ou quem sabe lá, louco ou visionário, seja lá a denominação que se queira dar àqueles que um dia tentaram contestar o vigente. Já não há mais dentro do texto jornalístico aquela história de pirâmide invertida e blá, blá, blá. Para o bem daqueles que não têm diploma e tem a foto do Gilmar Mendes na cabiceira da cama, essa estrutura de texto sem forma e livre está na moda.

Escrever uma matéria jornalística é contar história. Seja como for, você deve responder aquelas perguntinhas básicas que todo mundo faz numa simples conversade ponta de esquina. "Eita, foi mesmo? Onde foi isso? Sério? Quem fez? Oxi, porque? Caramba, será? Mas, e se....! Imagina...mas fulano também?", tô de zoação, gente. O que quero dizer é que o jornalismo literário caiu nas graças dos foquinhas e dos que tem menos de 10 anos de atuação no mercado.

Hoje, todo mundo quer enfeitar o texto e mostrar que é bom nas letrinhas e no jogo de palavras. Mas calma, lá. Lembrem-se que nos cargos de chefia ainda existem os pragmáticos, aqueles que aprenderam o jornalismo na labuta, na marra, nas coxas. Aquela galera que - por vezes - nem sabe como passar seu conhecimento, são grossos em alguns momentos, arrogantes e por aí vai. São poucos aqueles que admitem seus erros, menos ainda aqueles que aceitam sua submissão e entrega ao mundo moderno as informações em velocidade da luz.

Os medalhões do jornalismo são do tempo em que as notícias se renovavam de um dia para o outro. Agora, a cada segundo, um novo detalhe é divulgado e assim dado como mais vantajoso e estratégico do que foi noticiado há pouco. Pôxa, não tem comparação. Chega a ser covardia. Tudo bem que essa galera da geração Y ou X, sei lá, que letrinha, tem uma capacidade acima do normal de manejar as novas mídias. Cachorro velho aprende truque novo? Aprender até que aprende, porém, a maestria é mais embaixo.

Antes de me crucificarem, vamos dar justiça a importância da experiência no jornalismo. Titular, um termo diferente, uma palavra mais adequada, a calma, a ponderação e a parcimônia são fundamentais. O afoitismo atrapalha. Dar o tal do "Furo" banalizou. Todo mundo tem acesso a tudo - quase tudo. O jornalismo mudou. É fato! O que um site publica agora, pode ter sido a novidade que outro concorrente deve ter apresentado há um dia atrás. E isso acontece sempre. A corrida é tamanha, que o leitor que não viu a primeira notícia - daquele que realmente saiu na frente - vai pensar que o segundo que publicou foi o que realmente publicou.

Aí surge um questionamento interessante e que se faz presente. Nos sites jornalísticos, é melhor deixar em seus destaques aquilo que está bombando mais? Ou após um certo e louvável tempo, trocar a informação por outra nova? Bem, tem gente que é adepta do "em time que está ganhando não sem mexe". Até que...! Até quando vem outra notícia de outro site e derruba a sua. Creio que o jornalismo é tão veloz, que é necessário encontrar um modo de sempre renovar, porém dando publicidade a todas as informações importantes. Essa pluralidade da sede do internauta é tamanha que todos os públicos consomem a notícia que você noticia em seu site.

Ora, se eu ponho uma matéria sobre acidente em tal rodovia e deixo ela por mais de quatro horas, bem...vou perder um ávido público que quer ver putaria, esporte, política ou fofoca. E por aí vai....É onde o pragmatismo não deixa pensar. Não permite pensar assim até que um consultor - pago e muito bem pago - venha pro moderador e diga tudo aquilo que está na sua frente e só ele não vê.

Eita jornalismo ligeiro da gôta serena. Lá vem....ele...já foi! Assim é ele!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

E....



Cada história, por pior ou melhor que seja, tem um fim. Há quem diga que quando não terminou bem é por que não terminou. Existem também os pessimistas que invertem esse papel e dizem que são os finais tristes que de fato são os derradeiros. Por fim, este post vem dar linhas finais a uma história que eu vou contar para meus filhos por muitos anos. É uma história de fé, surpresas, preces, lágrimas, rezas e correntes de fé sem fim.

Neste sábado, dia 25 de fevereiro, Heverlane pode colocar em seu calendário como o dia de um segundo nascimento, pois é quando que ela realmente recebe alta do Hospital e torna para uma nova vida. Ela deu entrada no dia 29 de janeiro com um quadro clínico aparetemente irreversível, beirando uma leucemia. O desespero do jovem casal estava estampado em nossos rostos. Entretanto, algo dentro de mim ainda me mantinha a calma. Parecia que estávamos sacramentados a conhecer um anjo.

Sem asas e sem aréola, um anjo que foi usado pelo próprio Criador. As palavras da doutora Marta Galvão foram mais precisas do que sua competência e autoridade ao devolver a Heverlane a plena saúde. "Deus me usou para curar ela. Eu não fiz nada. Fui apenas um instrumento. Pois a situação dela era de um paciente de altíssimo risco e hoje ela está assim", descreveu com a maestria de sempre o que aconteceu resumidamente.

Nosso Carnaval foi vendo pela Tv, o que lá fora acontecia. Pelas redes sociais, via a animação de amigos, não os invejava. Apenas curti meu Carnaval de modo diferente, dediquei meu tempo a pessoa que mais precisava de mim. Até por que se temos uma certeza no país é que a folia momesca é a única garantia em 2013. Nada mais.

A acompanhei em cada abrir de olho, em cada mexer de mão uma vitória, um singelo gesto, que para qualquer mortal não é nada. Mas para quem viu o dia a dia desse fevereiro moroso e sofrido, foi um regozijo sem tamanho. Identificar cor em sua face era outro gol de placa que pôs um sorriso generoso em nós. A fala, a memória, tudo foi um lento processo de aprendizado de valorização da vida. Entre as recaídas, encontrávamos a motivação para novas tentativas. O desânimo tomava conta, mas algo nos emperrava. Ela até não me deixava mais escrever aqui sobre ela, mas a fé e energia - num sei onde - dava seus pulos e mostrava que tudo ia dar certo.

E foi pela experiência dela que aprendi como nossa vida é frágil, irrisória, mas ao mesmo tempo tão importante para um bem maior que nem temos notícia do que seja. Assim, num estalar de dedos, não temos mais o sopro da vida. E a lição que tiramos? Bem, varia bastante. Aproveite sua disposição, sua juventude, seu ímpeto, seus desejos, seus sonhos e oportunidades. Curta mesmo. Se tiver vontade, faça. Esqueça o pudor, os impedimentos. Viva. Faça valer a pena. Pois, quando você menos esperar, já foi e você nem viu....ou melhor, verá de outro plano - lá de cima.

P.S.: Logicamente, jamais vou parar de agradecer....Deus pague a todos vocês a corrente de orações, pedidos e intenções a Heverlane. Muito obrigado, de coração.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Foi um anjo ou O Próprio?


Dizem que Deus se transforma em mendigo, doente, alejado, em pessoas comuns para testar a avareza e a bondade humana. Até no filme Alto da Compadecida, o então Jesus Cristo Todo-Poderoso, lá no finalzinho do longa, desceu dos céus e se passou por um faminto pedinte.

Bem, Ele também aparece em nossas vidas através de gente que jamais poderíamos prever. E certamente hoje, Deus veio aqui na suíte 01, segundo andar, do Hospital do Coração, em Maceió. Estávamos nós deitamos na suite, ela na cama, eu em numa poltorna bem confortável. Sabendo que não teriamos visitas, nos surpreendemos com duas batidas bem lentas na porta. Pedimos então que a pessoa entrasse, pois poderia ser um enfermeira, o povo da Copa, da Nutrição, enfim, qualquer pessoa, menos uma senhora baixinha, de aparência frágil, beirando uns 80 anos, de fala mansa, com terça na mão, ela se aproximou de nós e pelo catéter da Heverlane, viu que ela era a paciente.

A senhora com rosto sofrido acariciou o rosto de Hever e respondeu a pergunta que tinha surgido. "Eu vim rezar por você". De pronto ela se saiu com essa: "Você aceita uma Ave Maria?" Logicamente, estática e assustada, aceitamos. Acompanhei sua prece e atônito fiquei observando a feição de verdade e fé que ela reluzia. Suas palavras doces, afáveis e clericais eram só um base, a graça divina, a fé no Espírito Santo e na graça de Deus.

A paz entrou no quarto. Falando com alegria e bem calma, a velhinha disse que seu hábito é visitar as casas de saúde e hospitais da capital. Ontem ela esteve na Unimed, amanhã ela vai na Santa Juliana e assim segue sua missão, dada, segundo ela, pela 'mãezinha' - certamente Maria. "Tenho prazer em fazer isso, e peço a Deus para me dar saúde todos os dias para continuar fazendo". E assim ela saiu do quarto deixando esse recado de desapego, caridade, solidariedade e humanidade.

Passei minutos sem acreditar naquilo. Até ouvir que ela tinha batido na mesma ritmia na suíte seguinte. Foi um anjo, só pode. Os olhos marejaram, o coração apertou e alma ficou bem mais leve. Creia, existe gente assim. Se foi Deus ou não, não sei. Mas ela passou bem seu recado. Deus falou por ela.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tudo ok!


Deixei vocês na mão, né. Sem notícias da Heverlane é fogo, concordo. É uma angústia sem fim para quem está de fora e mesmo assim ainda se preocupa, após toda comoção que passamos. Do jeito que brasileiro adora uma novela então, imagino. Mas tudo bem, pessoal, Hever está super bem. Ela está recuperando sua integridade física numa crescente sem igual. E quem diz isso são os médicos que estão acompanhando. Essa tal de ptt é tinhosa. A mortalidade dela é grande e do modo que ela reagiu a doença está sendo objeto de estudo. Cada caso é um caso realmente, porém, para mim, cá pra nós, é o que importa, ela está bem e fora de perigo.

A única coisa que ainda incomoda e a prende aqui no Hospital do Coração é o tal do catéter instalado na base do pescoço, o que permite a realização da plasmaférese - tratamento de limpeza do plasma sanguíneo. Desde o meu último post, ainda no sábado, são dias de alegria e alívio. Todas as funções motoras e cerebrais estão reestabelecidas. Sua memória ainda deu um pouco trabalho, mas hoje, já não é mais problema. Toda e a pouca medicação que ela ainda toma é por via oral, não mais venal. Ou seja, ela tá livre das furadinhas de agulhas e similares.

Ela não terá sequelas dessa ptt. A recuperação dela é tranquila, porém como ainda restam sessões do tratamento, o médico prefere liberá-la apenas com qualquer perigo afastado e totalmente fora de uma reicidência. Precaução e canja de galinha não faz mal a ninguém. Heverlane deve receber alta apenas na quinta-feira, dia 16.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Redenção: ainda não é o final




Redenção. Todos a buscam e poucos conseguem alcança-la. Porém mesmo assim devemos correr em sua caça com a sede de um cão feroz quando vê um osso suculento. Pois bem, é assim que devemos brigar pela vida. E claro, pelo que achamos o que é certo e bom para nós. Com a meta traçada, fica mais fácil.

E assim se resume a luta pela vida que todos nós devemos travar um dia, caso não já a estabeleçamos. E assim encarei a briga de Heverlane contra seu próprio corpo, ou melhor, contra um minúsculo exército de anticorpos danados que literalmente acabavam com o sangue dela, manifestando todo e qualquer tipo de mal.

Hoje foi o melhor dia destes tenebrosos e conturbados dias de uma semana que parecia sem fim. Em alguns momentos Heverlane perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo, não reconheceu parentes, remédos não reagiam, ela não se alimentava, memória ia e voltava, tudo era contra. Uma doença rara que entre 5 milhões, nasce um, teimou desse um ser ela. A tal de PTT - corrigindo, pois ontem escrevi PPT - a bendita microtrombose está saindo a cada sessão de filtragem do sangue.

Cada procedimento desse tem nos animado a cada término. E hoje foi o melhor dele. Pela manhã, Hever estava com a mão sem pegar nada com a mão esquerda, sem falar articuladamente, e ainda com lentidão de pensamento, além de lapsos de memória. Pois bem. Escrevo este post às 00h01, pois ela terminou a terceira sessão com todos os movimentos estabelecidos e com uma fome de leão - mas não pode comer, pois tem novo exame às 6h.

Heverlane voltou ao normal. Falante e desde já preocupada com a pousada, contas e com o povo que ligou, amigos, parentes e todos aqueles que de um modo se interessaram por sua integridade física. Conversou bastante. Recebeu visita, enfim. Mas não pensem que acabou. Ela ainda tem pela frente, mais três sessões. Ainda há caminho a seguir. Tudo bem, tudo bem, o último exame de ressonância magnética não constatou alteração alguma em seu cérebro, ou seja, tudo certo. Falta ainda limpar o sangue...pouco, mas falta.

Ajuda extra

Na manhã de hoje, ela recebeu a visita de um pastor evangélico. Ele veio, fez três orações. Fez seu trabalho, deixou a palavra de Deus - ao seu modo, claro - e que bom, foi justamente no dia que ela melhor reagiu ao tratamento. Coincidência ou não, o que vale é que ela está muito bem mesmo. Sou católico. Nascido e criado dentro dos dogmas da Igreja de Roma, mas nessa vida aprendi que não há espaço para antissemitismo ou intolerância. Sou de Deus independente de que nome ele possa ser chamado, Buda, Alá, Jeová, Javé, o que for. Todas querem o bem, o equilíbrio. E assim deve ser. Discriminar? Jamais. Tenho minhas reservas, meu ponto de vista, minha postura, e sempre respeitarei o diferente.

Tudo por que hoje o diferente foi o normal. Entendeu? Em sucessivos dias, o cotidiano foi o caos, a incerteza, as trevas, a dúvida, lágrimas e dor. E neste sábado, o diferente foi o retorno ao que era comum. Simples assim.

A guerra ainda não acabou!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Recuperando




Asclépio foi um herói-médico Grego que viveu lá pelos idos do período Arcaíco. Seus santuários, assim como os dedicados a outros deuses e também a alguns heróis, se tornaram populares templos de cura, onde os devotos buscavam auxílio divino para seus problemas de saúde. Entretanto, hoje estou a mercê de uma máquina que está devolvendo a vida a Heverlane - minha noiva -, logicamene pelas mãos de um competente hematologista, o dr. Wellington Galvão, mas curando ela de todo modo.

Ainda bem que não estamos nos tempos de Asclépio, pois a tecnologia que hoje temos salva muito mais vidas do que aqueles tempos helênicos, mas dele tiro uma lição. As orações, preces, passes, ou seja lá o que for, estão ajudando e muito a recuperação de Hever. É nítido ver a crescente evolução em seu quadro. Mesmo com pequenos retrocessos, devidamente contornáveis, ela está reagindo bem. Brinca, tira onda, se emociona, faz planos. Normal, né. Todavia, o pior obstáculo que percebo é a batalha psicológica que operamos todo dia. Essa a poupamos.

Só para deixar claro aos queridos que estão acompanhando apreensivamente o caso é o seguinte. Foi diagnosticado que o corpo de Heverlane desenvolveu congenitamente um anticorpo que está promovendo microtromboses em seu sangue. Isso é responsável por diversos sintmos que ela ainda está sofrendo, porém numa intensidade bem menor. Enxaquecas e dormência nos membros do lado esquerdo do corpo.

As sessões de diálise que estão extirpando do corpo dela esses anticorpos maluquinhos estão dando nítidos resultados. Ela está lembrando mais das coisas, falando mais articulado, conversando mais, humor de volta, andando mais normalmente. Tudo está voltando a ser como era. Ela também voltou a se alimentar melhor, após uma insistência tremenda, mas está. Hoje, sexta-feira, quase sábado pelo adiantar da hora, ela concluiu sua segunda sessão.

Sua aparência é outra. Ela está mais disposta, menos debilitada e para a sessão deste sábado, Às 15h, as perspectivas são ainda mais animadoras. Bem, mas aqui pra nós, gente. Não é nada fácil lidar com esse tipo de situação. Quem já passou por algo semelhante sabe. Você inicialmente tem que ter o equilíbrio de dosar suas forças - eu to um caco, minha coluna tá dando um nó de tanto ficar em pé..rsrsrs, normal.

O psicológico conta bastante. Parece que são em momentos como esses que birras familiares se tornam ferrenhas indiferenças. Todo mundo quer ajudar nessa hora, que bom, é ótimo, mas o ciúme, outras desavenças ressuscitam ainda mais nervosas. É hora de bandeira de paz, gente. Tudo em nome da recuperação dela. E só. Guerras depois, ou nunca, melhor seria.

E, por favor, pessoal, continuem com orações e desejos de recuperação. Está ajudando e muito. É sério. Desde já agradeço.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Querer é poder




Palavras tem o poder de um tufão na vida das pessoas, sendo assim cuidado ao proferi-las. A força da fé pode ser sentenciada por meio delas. Jamais elas seriam em vão e deste modo peço que continuemos nessa corrente mais do que pra frente, mas para cima e além. Nosso destino é a redenção e a renovação em nome da restauração da vida. Seguem os sentimentos e desejos, vontades e bem-quereres para a recuperação de Heverlane.

Nunca uma semana foi tão vagarosa e em jamais instante de minha existência clamei tanto pela intervenção divina. Podem até dizer que é oportunismo mundano em buscar a Deus apenas nos momentos de aflição. Sou pecador, fraco e tão terreno como qualquer que aqui vive e aceito as consequências em nome de um bem maior. Fui quase um coroinha, um diácono, quem sabe, por sempre ser regido pelas égides da Igreja de Roma. Afastei-me, flertei até com os evangélicos, porém meu ceticismo católico foi mais forte. Entretanto, jamais o descriminei. Inclusive foi conhecendo o protestantismo que enxerguei melhor o espiritismo e até as religiões de matrizes afro. Sem preconceito.

Pois em momentos de dor clamamos súplicas nas mais diversas línguas religiosas. Queremos apenas o bem maior, a extirpação do flegelo que cai momentaneamente sobre nós ou sobre os nossos. Acompanhando o sofrimento e a batalha diária de Hever acabei travando uma contenda interna. Era meu eu fraco, triste, choroso, contra um eu impávido, frio, controlado e inatingível. Por vezes, eu desabava em prantos e lágrims sem fim. Em instantes difusos, me deparava pensando bobagens, com cara de horizonte, achando que estava mesmo vendo o horizonte. No automático.

Ver ela em cima de uma cama, envolta a fios, pálida, indefesa é duro. Comparar ela com aquela Heverlane brigona, tinhosa, sorridente e espontânea é covardia. Mas aos poucos, dia após dia, uma esperança a mais ganhava, embora um retrocesso ou outro nos atingia mais fortemente. É, é isso que acontece, apesar da evolução do quadro clínico, da estabilização do índice de plaquetas, do controle da glicemia e da eliminação completa da possibilidade de leucemia, as breves e chatas esquemias transitórias - duas - tomavam proporções gigantescas e desanimadoras.

A preocupação é tamanha que nos deixa igualmente desnorteados e ficamos descrentes. Mas só por meio das orações demoradas e às cegas, com os olhos bem fechados, é que sentimos o alívio do Espírito Santo tomando posse de nós. E é isso que todos devem fazer nesse momento. Hever vai passar por procedimentos de limpeza do sangue, já que seu corpo desenvolveu anticorpos que rejeitam o sangue novo. É esse o motivo - pelo menos até agora - das sucessivas dores de cabeça e dos formigamentos preocupantes.

Estamos no degrau derradeiro dessa fase. É certo que ela passará por um tratamento rígido, após essa fase hospitalar, de perdas e ganhos cotidianos. Mas vai passar. A medicação a deixa grogue, mas é ela sim. Afago seu rosto, seu cabelo e sinto que tudo vai passar num piscar vagaroso de olhos. Vai sim.

De mãos dadas

Todos os dias recebo ligações, mensagens, recados no Twitter e no Facebook. É delas que sinto a energia de pessoas que nem sempre podem estar conosco sempre, mas elas estão conosco. São nosso alento, nossa rede de conforto e de fé. A palavra amiga que nem sempre temos, mas são em momentos assim que ficamos igualados em um exército de fé. Irmanados num só ideal, a nossa batalha ganha vida. Esses testemunhos nos enchem de força, inflam nosso espírito de ânimo. Elas funciona como aquela muleta que não nos permite cair, quando uma perna falha.

Por isso, que desde já sei que a providência divina é positiva e em prol da saúde de Heverlane. E como disse o amigo Felipe Camelo, "agradeça desde já, pois o melhor vai acontecer aos bons". Nem pensemos em outra hipótese, pois o bem vence sim. E triunfará novamente. Ela vai sair dessa ainda mais forte e melhor do que entrou. Está decretado.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Apenas força e fé...só isso!




Nosso corpo é cheio de surpresas e armadilhas que nem sempre estamos prontos para encarar. Meu drama pessoal mostra justamente esse paradoxo humano que temos que conviver. Desde sexta-feira, Heverlane, minha noiva, está lutando por sua vida. Essa luta incessante parece ser sem sentido, em vão, já que como diz o ditado popular, "nós só vamos na hora certa". O cômico é que fazemos das tripas coração para permanecermos nesse mundo louco, cheio de intolerância, injustiça e maldade. De todo modo quero sim esse egoísmo e a quero ao meu lado até ficarmos velhinhos. Tenho esse direito e por isso estamos seguindo nessa luta diária de empolgação, esperança, decepção e agonia.

Hever já não tem mais o baço - órgão responsável pela produção sanguínea. Pelo idos de 2002, apareceu um líquido nele que ameaçava essa produção, ele foi retirado, mas esse estranho corpo nosso é tão maravilhoso, que criou por si só um baço acessário para compensar a perda do orginial. Além do baço, ela não tem também o apêndice, mas como se trata de órgão vestigial, sem problema.

Só que Heverlane vem dar outro susto ao se envolver num grave acidente automobilístico em Coruripe, em 2007. Quase perde a vida, e pelo bem, nada aconteceu. Parece até que ela gosta de dar sustos, bobagem, né. Teste para cardíaco. Mas enfim, voltando a atualidade, na última sexta, ela vinha de um quadro viral apresentando leve febre, dores no corpo e indisposição. Deixou de viajar retornando para Maragogi em virtude disso. Vi em seu corpo uma série de pequenos hematomas na pele, espalhados por todo o corpo - era o prenúncio que viria.

Passada a sexta, o sábado vem com esperança. Só que persistem os sintomas e no final da tarde, ela começa a reclamar de um cansaço excessivo. Uma agonia no peito que não tem fim seguido de uma arritimia sem justificativa. A família tem diversos casos de problemas cardíacos. O caso começa a tomar proporções assustadoras. Contra a aceleração do coração, um sustrat - remédio para cardíaco - foi aplicado, porém, toda medicação desse gênero tem efeitos colaterais, como por exemplo, a boa e velha enxaqueca.

No domingo, os sintomas se agravam, vamos ao Hospital Artur Ramos. Porém, após vomitar durante o caminho, sente-se melhor. Na Emergência, é medicada por um clínico. Um tilatil e soro, nada mais. Pecado e erro crucial. Nenhum tipo de exame para identificar se a paciente tinha dengue foi exigido e ao chegar o exame de sangue de rotina, foi apontado uma redução assustadoramente drástica do número de plaquetas sanguíneas. Status normal é de 150 mil, o de Heverlane estava em 9 mil. Fraquíssima. Quadro que poderia apresentar facilmente uma leucemia. O desespero toma conta dela e de mim, claro. Não acreditei. O pranto tomou conta dela, mas eu não podia me entregar tinha que dar força.

Três exames foram feitos naquele domingo. Repetidos pela descrença do médico, assustado com o resultado. Hever não queria ficar ali e assinamos um termo de liberação - a contragosto do médico. Em casa, não há melhora a noite foi a mais longa da minha vida. Sem sono. Só lágrimas e insônia, imaginando um diagnóstico quase mortal. E pela manhã decidimos ir ao Hemocentro de Alagoas - o Hemoal. Porém a fila que lá estava mataria e á pálida e fraca Heverlane. Voltamos ao Artur Ramos, após Heverlane reclamar de tontura e ter vomitado duas vezes. A ficha só cairia ali do quadro grave que se apresentava.

A internamos no hospital, muito debilitada, começamos uma peregrinação em busca de um hematologista já que a instituição médica não dispunha de tal. O quadro que ninguém explicava nos obrigou a cogitar uma transferência de helicóptero para Recife, já que de ambulância ela não suportaria. Só no começo da tarde, após uma bateria de exames, a hematologista Marta Galvão decide nos atender e acompanhar o caso. Ela descarta o quadro leucêmico para a tranquilidade geral.

Porém, quando se aguardava uma melhora gradativa, já que suas plaquetas tinham aumentado para 40 mil, ela teve uma piora na tarde de terça-feira. O coração apertou. Ao chegar no hospital e ver o povo chorando, meu chão sumiu. Uma esquemia transitória teria nos assustado e até agora a apreensão permanece. O fluxo de sangue foi retomado normalmente. Ela está bem, recuperando-se. Ainda fraca, mas lentamente.

Fico ao lado dela na cama apenas alisando seu rosto, seu cabelo, com a pergunta engasgada "quando isso tudo vai terminar?". O incômodo é presente. Tudo bem que todo mundo se preocupa, presta solidariedade, porém a vontade mesmo é de ficar sozinho com ela. E esquecer os momentos de angústia e lágrimas que tenho passado. Agradeço a todos que têm se mostrado interessados pela situação dela e peço que continuem com orações e corrente positiva.

Espero por mais uma surpresa que esse nosso corpo possa nos apresentar, porém, agora pro lado bom.