segunda-feira, 13 de junho de 2011

Alagoas tem jeito? Veja aí....

Matéria publicada na edição do domingo, 12 de junho, da Tribuna Independente

Pouco mais da metade dos 3 milhões de alagoanos está abaixo da linha da pobreza, de acordo com o IBGE. Os índices de Desenvolvimento Humano são os piores do país. Segundo o governo alagoano, essa realidade tem data certa para mudar. 2022 é o ano da redenção, acredita o governo do Estado. Estudiosos não acreditam nesse prazo, mas apontam para uma direção e indicam o que fazer para dar a Alagoas um patamar de desenvolvimento digno para seus habitantes. Para economista, no mínimo são necessários mais 25 anos para mudar esse panorama.

Desde a época do Descobrimento até 1960, segundo o mestre em Economia Aplicada pela Ufal, Jarpa Aramis, Alagoas vivia às custas do agronegócio da cana. Ou seja, só ganhava dinheiro quem era ligado ao ciclo da cana-de-açúcar, que é bem limitado por sinal, ou é dono de usina ou fornecedor de cana, os demais postos não são tão rentáveis assim. Para o economista, Alagoas parou no tempo por séculos. “Todos os estados do Nordeste procuraram outras alternativas, só Alagoas que se estagnou, principalmente após a década perdida (anos de 1980), e após o acordo dos usineiros (1990)”, explicou.

A receita para sair desse marasmo econômico, pelo menos uma saída é a geração de emprego e renda. Assim acreditam, tanto o economista Jarpa Aramis, quanto o gerente da Unidade de Atendimento Individual do Sebrae, Alagoas, Marcos Alencar. Ambos são categóricos e resumem que o caminho para o desenvolvimento de Alagoas passa pelo fomento às pequenas iniciativas e apoio ao pequeno e micro empreendedor.

De acordo com Aramis, os impostos que o governo estadual deixou de lucrar com os dividendos do álcool permitiu que os empresários canavieiros investissem na abertura de concessionárias de veículos nas capitais. O crescimento comercial, principalmente no setor de Serviços, deixou os municípios do interior sem atenção estatal, sem infraestrutura e sem comércio para assimilar toda força de trabalho, oriunda do campo. “É então que o fenômeno do enchimento das grandes cidades acontece. O povo do campo vem em busca de oportunidade e quando não encontra, eles se amontoam nas periferias, criando as favelas. A miséria começou assim”, ressalta.

Lembremos que mesmo com a vocação agrícola de Alagoas, o setor Industrial não é o que emprega a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) alagoana. “O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de Alagoas atualmente é eminentemente composto pelo setor de Serviços (68%); Indústria contribue com 25%; e 6% agropecuária. O que emprega mesmo hoje em Alagoas são os serviços”, diz o economista.

Na avaliação de Jarpa Aramis, o caminho é promover o desenvolvimento econômico nos municípios de forma homogênea, estreitar o relacionamento com o governo federal e apoiar as pequenas iniciativas. “As grandes cidades estão inchando, a saída é incentivar os pequenos empreendedores. Temos que desenvolver o Estado como um todo, já que os pequenos comerciantes estão espalhados por todos os municípios”, destacou o economista.

Neste sentido, Alagoas parece recuperar o fôlego e a vinda de novas empresas vem dando um ânimo aos desempregados locais. Foram 42 novas empresas (entre industrias do setor de metal-mecânico, hoteis, e supermercados de grande porte) chegando e se instalando em terras alagoanas. Entre 2007 e 2010, a antiga Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico listava até então 19 empreendimentos comerciais novos em operação. Em 2009, o governo estadual registrou 120 empresas atuando no Polo Industrial Governador Luiz Cavalcante, no Tabuleiro dos Martins, gerando 4.500 empregos diretos, segundo números da Associação dos Dirigentes do Distrito Industrial (Abedi). De forma mais detalhada, a Junta Comercial de Alagoas conta 50.378 empresas abertas em dez anos, e apenas neste ano foram abertas 2.364, dos mais variados tamanhos e modalidades econômicas.

A Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Qualificação (Seteq) apresenta um crescimento de 165,8% - entre 2003 e 2010 – apenas no setor de hotelaria e alimentação. Entre janeiro e abril deste ano, o número de contratação no setor foi de 10.763 admissões. A Seteq entende que para mensurar o número de empresas necessárias para saciar a fome de emprego do alagoano é variável. Técnicos da secretaria dizem que cada empresa tem um perfil de absorção de empregos. Vejamos: a Bauducco (Rio Largo) emprega pouco mais de 150 funcionários alagoanos; a Telesil Engenharia Ltda, na construção civil, emprega cerca de 800 trabalhadores de todo o Estado. Do mesmo modo há hoje 32 indústrias do setor químico-plástico sindicalizadas [entre novas e antigas] geram 3.500 empregos diretos, tem a previsão de instalação de novas grandes indústrias como Aloés [fábrica de fraldas e absorvente] e a Krona [tubos e conexões em PVC], esse número aumentará para 5 mil empregos diretos ainda este ano.

Portanto, técnicos da Seteq preferem trabalhar incentivando o aquecimento das vagas e a sua disputa – motivando a capacitação. Caso, de acordo com eles, seja exposto o número oficial de desempregados em Alagoas, muitos jovens, ainda em busca do primeiro emprego, assustam-se e se desmotivam, buscam então meios mais fáceis de ganhar dinheiro, como o mundo das drogas, pois grande parte dos jovens nesta fase de busca de ocupação vivem nas periferias e o tráfico é presente e tentador.

Tanto o economista, técnicos do Estado, e Sebrae apontam que a solução não é a quantidade de empresas criadas, nem o prazo que o Estado tem para atrair novos investimentos, a saída indicada para Alagoas é fomentar as iniciativas alagoanas, autônomos e empreendedores locais.

Meta e projetos

O governo do Estado espera até 2022 acabar com a miséria em Alagoas. “É uma intenção de Estado, é um programa de Estado e não de governo”, acredita o secretário Luiz Otávio Gomes, responsável pela pasta de Planejamento e Desenvolvimento Econômico. Ele citou a intenção do Programa Alagoas Tem Pressa, lançado este ano, que tem como meta primaz o equilíbrio das contas estatais, e em seguida a busca de auxílio de instituições financeiras parceiras como o Banco Mundial e Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O passo seguinte, completa o secretário, é provocar o comprometimento do povo alagoano e criar uma visão geral da situação socioeconomica de Alagoas, para que todos se unam nesse ideal. Utopia? O secretário não concorda. Luiz Otávio finaliza e diz que o programa pretende ainda fiscalizar-se e cobrar a execução das ações de Estado. As áreas de atuação deste programa contemplam a qualidade de vida do alagoano, por exemplo, que será focada em cinco projetos (Mortalidade infantil, saúde, segurança, saneamento e habitação). O desenvolvimento do capital humano dispõe de com quatro projetos no Alagoas Tem Pressa, baseia-se na educação. Já a radicação da pobreza extrema tem quatro iniciativas, como a ampliação do Fundo de Erradicação da Pobreza (Fecoep), inclusão produtiva entre outros.

O crescimento e diversificação econômica vinga com cinco projetos, que contemplam o turismo, o agronegócio, e o fortalecimento das micro e pequenas empresas. A inovação da gestão pública tem quatro projetos, entre eles que visam a valorização do servidor e parcerias público-privadas; valorização da imagem e ícones culturais, com três projetos. “São projetos que vão mudar a realidade de Alagoas. Com isso em 2022, não teremos mais miseráveis”, conclui.

De acordo com o economista Jarpa Aramis, a meta governamental não pode ser alcançada assim da noite pro dia. Ele acredita que sem resolver os problemas ocasionados pelo processo de urbanização, muitos alagoanos estarão fora desse "desenvolvimento", pois é necessário debater uma agenda de fortalecimento de parceria com a União, “para creditar aos alagoanos esquecidos no interior do Estado”. “Equacionada a questão da miséria e da pobreza, talvez Alagoas, possa pensar em desenvolvimento, entendo que o debate atual esteja centrado no crescimento econômico e não no desenvolvimento, coisas distintas”.

O economista comenta ainda que mesmo com a intensa atenção da União em erradicar a miséria e a pobreza do país, porém no caso de Alagoas, outras linhas devem ser fortalecidas e construídas. “Garantir renda, inserção no processo produtivo e universalização dos serviços do poder público”, fala.

“Um dos aspectos que possa contribuir seja a sinalização da União, voltada para atenção das iniciativas ligadas aos pequenos. Se Alagoas aponta para 2022; estamos falando de em onze anos modificar o cenário social e econômico de um dos estados da federação que possuem os índices mais baixos; acho muito pouco tempo, para resolução de problemas estruturais de ordem econômica e sociais. Acredito que daqui há uns 25 anos, quem sabe”, cita.

Conhecendo essa realidade, Marcos Alencar, gerente da Unidade de Atendimento Individual do Sebrae, em Alagoas, acredita que o caminho para o desenvolvimento local é por meio do empreendedorismo, seja ele por meio da vocação ou por necessidade. “O Sebrae orienta nesse sentido. Ele fornece gratuitamente os caminhos para se obter êxito em seu empreendimento, além de apresentar as ferramentas de gestão que evitem o seu fracasso comercial”, disse. Vale salientar ainda que mais da metade do negócios abertos podem fechar em menos de dois anos. “Tudo por falta de gestão”, explica Alencar.

Legalizar os ‘informais’ e transformar esses empreendedores em Micro Empreendedores Individuais (MEI), pagando cerca de R$ 37 mensais, apenas para garantir sua aposentadoria ou fazer com que ele seja um Empresa de Pequeno Porte (EPP) é um caminho para incrementar a economia regional também.

Ainda nessa linha de pensamento que visa o fomento do pequeno negócio, o Sebrae e governo do Estado, se unem no Programa de Arranjos Produtivos Locais. O programa dá atenção a este tipo de segmento e se encaixa com o que Alagoas precisa, porém observando os empreendedores do interior e nas mais diversas áreas possíveis – são 13 áreas contempladas, como ovinocaprinocultura, mel, turismo, tecnologia, móveis, enfim. Tanto Jarpa Aramis, quanto para Alyne Vieira, superintendente de Desenvolvimento Regional e Setorial da Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento (Seplande), os APLs representam uma boa oportunidade para virar o jogo e desenvolver Alagoas com mais velocidade.

Vieira salienta que o APL alavanca a potencialidade econômica da região para dinamizar a economia, privilegiando sempre o pequeno produtor. A superintendente diz que o programa incentiva o cooperativismo e o associativismo. Exemplo disso, até assentamentos são contemplados com o programa, como o assentamento Pacu, em Pão de Açúcar, onde é fomentada a ovinocultura. “São R$ 3 milhões investidos anualmente para colocar o projeto pra frente, contando também com apoios extras”, disse Alyne Vieira.

“Damos os instrumentos e as ferramentas para o desenvolvimento da região, mas é preciso que o produtor seja capaz de investir em seu próprio negócio. Que ao conseguir seu lucro, ele invista em seu empreendimento, para buscar se difereciar e bancar a competetividade do mercado”, completa a superintendente.

A iniciativa em criar uma Casa do Trabalhador Autonômo, em Alagoas, é altamente louvável, elogia o economista Jarpa Aramis, pois, segundo ele, a ação fortalece os microempresários, promove a livre iniciativa e permite que o cidadão tenha acesso aos serviços de, por exemplo, marceneiro, pedreiro, eletricista. “São iniciativas como essas que devemos fomentar. Devemos apoiar e regulamentar os informais. O caminho sempre foi o ‘pequeno’”, ressaltou.

Como esperança para alguns empreendedores, a capacidade de compra aumentou e o crédito está mais acessível. Os bens de consumo estão mais acessíveis em virtude da renda extra fornecida após 2003, com o Bolsa Família. O economista cita o crescimento de supermercados nas periferias da capital, segundo a Associação Brasileira de Supermercados o pulo foi de 25% na criação de supermercados de pequeno e médio porte. O funcionário do Setor de Contabilidade do Supermercado Casa Nova, em Satuba, Hermann Rossi, fala que a carga tributária de Alagoas é grande e quando o produto de outros estados chegam no Estado, ele ainda paga a diferença no posto fiscal. O proprietário do supermercado, Gilberto Martins, é ex-funcionário de uma grande rede de supermercados nacional, e decidiu investir em seu próprio negócio. Hoje, Gilberto Martins tem nove lojas na região Metropolitana de Maceió. Ele diz que a mudança do mercado em Alagoas se deu também pela busca do profissionalismo, assim como para fugir da informalidade.

Pelo ponto de vista do incentivo aos pequenos, o argentino Guilherme Novolisio, de 45 anos, dono de kitnetes, sentiu na pele ao querer abrir seu negócio no segundo polo turístico de Alagoas, Maragogi. “Pago o mesmo imposto (IPTU) duas vezes, um para a prefeitura e outro para a Marinha, pois meu empreendimento é a beira mar”, diz.

Guilherme é testemunha do apoio feito pelo Sebrae, por meio do APL Costa dos Corais. “Hoje já posso empregar e já estou expandindo meu negócio, estou abrindo uma pousada, a inauguro em agosto ou setembro e já vou empregar mais gente”, comemorou.

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