sábado, 25 de junho de 2011

Vai com Deus


Todos os dias nordestinos deixam sua terra para colher dias melhores no Sudeste. Sonham, lutam, trabalham, sofrem. A dor da distância de seus entes queridos é enorme, porém a vontade de vencer na vida é ainda maior. Poder dar momentos de felicidades, um futuro digno para seus rebentos e encher de orgulho os seus parentes. Foi com esses desejos, anseios e metas que Maidi Porfírio da Silva pegou o primeiro voo para o Rio de Janeiro no início dos anos de 1980.

Seu primeiro filho, Mozart Júnior, já era nascido. Janaína, a mais nova, era quase uma recém-nascida. Maidi, esbelta, linda, corajosa e impetuosa foi abandonada pelo seu marido. Pois então, estava ela na Cidade Maravilhosa penando e sofrendo. Como se não bastasse o sofrimento de criar dois filhos, praticamente sozinha, ainda tinha que labutar e driblar o aperto do peito por estar numa terra distante e sem sua base familiar.

É quando chega no pagode, literalmente, um portuga muito gente fina e cheio de ginga. Gutti. O luso já tinha a alma carioca e com a lábia dos nativos de tanto insistir conseguiu conquistar a alagoana de corpo de violão. Se casaram, não tiveram filhos, mas aos poucos começaram a colher frutos. Casa própria, emprego, e os garotos crescendo. Nooouuussssaaa, como foram felizes.

Depois de várias visitas à sua terra natal, aqui nas Alagoas, Maidi apresenta a figuraça que Gutti é. Ganhou também a família da moça com uma bandana na cabeça e uma sede por cerveja típico da família alagoana. Cansado de ver meus primos, mãe e irmão indo ao Rio ver as maravilhas que a Guanabara podem proporcionar, fui embora.

Só em 2008 tive tempo e coragem para visitar o Rio de Janeiro. Porém, o que gostaria de contar aqui foi uma passagem que vive com dona Maidi. Já diagnosticada com um câncer nos ossos e ainda em quimioterapia, fui visitá-la na Curicica, em Preguiça, Jacarépaguá, lugar de gente simples, humilde. Não importava. Minha relação com Maidi transcendia tudo isso. Seu carinho, seu sorriso revigorante passava pra mim uma vontade de viver que poucas vezes tinha visto.

Na Taquara, em Jacarépaguá, existe o Lar de Frei Luiz. Espaço católico-espírita, se é que existe isso, mas era algo assim. Todas as terças-feiras, Maidi e um grupo de amigos ia para receber e fazer orações. O local é mágico, encrostado na mata, a energia positiva que se sente é qualquer coisa de fenomenal. E foi lá, eu Maidi recebia ânimo, paz e conforto. Fui aconselhado e visitar uma das salas de orações. Limpei-me. Senti-me leve. Em uma sala escura, com pontos luminosos vermelhos, só sentia preces e rezas quase que silenciosas. O local é reduto de artistas, famosos que buscam paz interior e um pouco de alento.

Retornei a minha terra com a alma mais leve e pura. Porém, infelizmente a luz que acalentava o coração atormentado e cansado de Maidi não foi suficiente, ou melhor, a luz apenas a aproximou mais de Deus. Tudo por que o Altíssimo só quer gente boa perto Dele. Não se enganem, pessoal, é isso mesmo. A alma caridosa e calma de Maidi foi levada neste sábado. O sofrimento quase desesperador provocado pelo câncer terminou.

Maidi seguiu deste plano para nos observar de lá de cima. Deixou Janaina com um filhinho na barriga e o Júnior, pronto para viver de fato a vida. Sem contar no ostracismo que Gutti se afundou nos últimos momentos. O sofrimento de Maidi parece que passou para o peito de Gutti. A simpatia e alegria, marcas registradas do patrício, deu lugar a uma dor sem fim. Como todos os outros parentes e familiares alagoanos estão sentindo hoje.

Não apenas como admirador, sobrinho e grande torcedor por sua luta, peço pela última vez minha tia, sua benção......

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