sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vergonha escondida


Uma das páginas mais importantes de nossa história e uma daquelas que determinou o modo de vida do brasileiro é simplesmente ignorada pelas autoridades do governo brasileiro. Oficialmente, segundo o governo, a Guerrilha do Araguaia não existiu. A guerrilha foi um movimento armado revolucionário que queria conclamar o povo do interior do país a juntar-se a eles na luta contra a ditadura militar instalada entre 1964 e 1985. Mais especificamente os camponeses da região de mata do Pará, Maranhão e Goiás.

A guerrilha rolou no fim dos anos 60 e início dos 70, conclamada pelo jovens militantes do PC do B, estudantes e profissionais liberais. Eles queriam na verdade era instalar o comunismo no Brasil, baseados na experiências Chinesa e Cubana. Olhando hoje, não seria lá uma ideia legal, mas para o horror que existia na época, bem, valia tudo.

O desconhecimento do massacare da Guerrilha do Araguaia se deve não apenas à censura existente na época, mas também os arquivos do Exército Brasileiro desconhecem tal movimento. Todos os mortos são considerados desaparecidos políticos, visto que os seus corpos nunca foram encontrados e então não há de fato crime sem corpo.

É revoltante! Muito revoltante sim. Imaginem gente que foi torturada, teve seus direitos civis negados, foram espancados, muito ficaram cegos, alejados, ou adquiriram trauma pós-traumático, ficaram loucas, morreram. Enfim, foi uma guerra que o Brasil não viu.

Em 1975, o Exército iniciou a operação limpeza que voltou a região do conflito. Os militares acabaram com qualquer foco ou resquícios de guerrilha na região. Cemitérios, bases, ruínas, tudo que pudesse fazer menção ao movimento. Já em 2003, a Justiça brasileira obrigou as Forças Armadas a abrir os arquivos da guerrilha e relatar onde estão sepultados os restos mortais dos desaparecidos políticos. Nada aconteceu.

E como represália à morosidade brasileira, a Organização dos Estados Americanos(OEA), já este ano, abriu uma ação contra o governo federal pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento de, pelo menos 70 pessoas.

É incrível mesmo como as coisas acontecem no país diante de nossos olhos e nada podemos fazer. De certo, a abertura política iniciada pelo presidente Geisel e concluída pelo presidente Figueiredo impôs que a anistia deveria ser irrestrita, ou seja, também anistiava os torturadores como o sanguinário delegado Fleury, de São Paulo. Confiram sua atuação, ou pelo menos uma pitada dela em Batismo de Sangue. Longa que conta a saga e morte do Frei Tito, torturado por Fleury durante os anos de chumbo.

Um comentário:

  1. SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ:

    No CEARÁ, para quem não sabe, houve também um crime idêntico ao do “Araguaia”, porém pior em suas proporções, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará no ano de 1937, contra os camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, quando através de bombardeio aéreo, e depois, no solo, com tiros de fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram mulheres grávidas, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas.

    Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará foi de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO / CRIME CONTRA A HUMANIDADE é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira bem como pelos Acordos e Convenções internacionais, e foi por isso que a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - Ceará, ajuizou no ano de 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que sejam obrigados a informar a localização exata da COVA COLETIVA onde esconderam os corpos dos camponeses católicos assassinados na ação militar de 1937.

    Vale frisar que a Universidade Federal do Ceará enviou pessoal no início de 2009 para auxiliar nas buscas dos restos dos corpos dos guerrilheiros mortos no ARAGUAIA, esquecendo-se de procurar na CHAPADA DO ARRARIPE, interior do Ceará, uma COVA COM 1000 camponeses.

    Seria discriminação por serem “meros nordestinos católicos”?

    Ao final pedimos o apoio de V.Sa. nessa luta, no sentido de divulgar o crime praticado contra os habitantes do SÍTIO CALDEIRÃO, bem como, o direito das vítimas de serem encontradas e enterradas com dignidade, para que não fiquem para sempre esquecidas em alguma cova coletiva na CHAPADA DO ARARIPE.


    Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
    OAB/CE 9288 – (85) 8613.1197
    Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
    www.sosdireitoshumanos.org.br

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