quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Repórter Perereca, diretamente do Rio de Janeiro para.....


"As pessoas fazem a história, mas raramente se dão conta do que estão fazendo", disse o ator britânico Christopher Lee. E foi o que aconteceu entre 1808 até 1821, quando o repórter Perereca atuava junto a comitiva de Dom joão VI, em sua estadia no Rio de Janeiro.

Eram tempos inusitados. Anos em que a Família Real Portuguesa fugiu das forças napoleônicas, que invadiram Portugal em novembro de 1807. Medroso como ele só, o monarca bonachão português pegou seus panos de bunda, sua família, e tudo que poderia caber na frota marítima portuguesa e veio para o Brasil.

A história brasileira realmente é sui generis. Não há país no mundo com tamanhos contos e meandros de fechamentos esquisitos. Naqueles tempos, onde as grandes nações imperialistas dominavam meio mundo, jamais um monarca se quer visitou suas colônias. Mas forçosamente, D. João trouxe gato, cachorro e papagaio para os trópicos, fincou residência e governou daqui. Nenhum imperador, rei, seja o que for, fez tamanho ato naqueles tempos.

Foi um choque cultural imenso. Se liguem, uma família abastada, com requintes europeus, passar a viver entre escravos e ladrões, sem qualquer luxo, num calor dos infernos. Sem chance. Tudo isso aconteceu por causa de uma ação inesperada do então rei português.

Napoleão tava pegando geral. Invadindo tudo que é bimboca. Aí vê ali encostada na península Ibérica, Portugal. Ali, na dela, tranquila, potência marítima, e tem uma ilhazinha chamada Brasil cheia de ouro, riquezas naturais, prata, o que for. O comandante Napoleão arregalou os olhos e disse, vou invadir essa zona.

Foi então que Inglaterra ofereceu parceria pra Portugal. "Tamo junto", disse o rei inglês. Mas que nada, apoio britânico naquela época, era como fazer negócio com o Collor, hoje. Sempre você será passado pra trás. A coroa britânica concedeu o mesmo apoio à Dinamarca contra o mesmo francês baixinho, e pimba. Dinamarca amanheceu sob forte bombardeio inglês antes mesmo de Napoleão chegar. Ai D. João pensou....se ficar o bicho come dos dois lados.

O povo português queria era mesmo que o monarca barrigudo ficasse pra lutar contra os franceses. Mesmo dando como certo um massacre. Mas nesse meio todo, João não ia perder apenas Portugal, mas sua principal colônia. Nós aqui. Inglaterra ou França dominando Portugal, o Brasil se tornaria independente mais cedo, como fizeram os Estados Unidos.

Deu no que deu. A reca toda da Família Portuguesa veio para o Brasil. Foi então que entra em cena o mais intrépido repórter da realeza portuguesa: o repórter Perereca. Luis Gonçalves dos Santos não era jornalista por formação, era padre e cronista por vocação, além de bajulador 24 horas por dia.

Calma, calma, poderíamos dizer que o Perereca fundou os alicerces da assessoria de imprensa. Mas não, ele divulgava tudo que a Corte Portuguesa fazia aqui na Terra Brazilis. Visitas, inaugurações, e tudo mais que Dom João fizesse, porém com uma pitada generosa de adulação. O sacritão canetinha relatava detalhadamente a estadia dos portugas por aqui. Não desgrudava.

Para conferir os relatos rasgados em elogios do repórter Perereca fez ao Rio de Janeiro e Salvador, leiam '1808', de Laurentino Gomes. A obra descreve como a família de Dom João bagunçou o Brasil e como colocou o país numa rota de desenvolvimento pulgante pra época. Muito boa leitura.
Ahhhhhhhhhh, por que o padre repórter era chamado de Perereca? Bem, desde aquele tempo os cariocas eram folgados e brincalhões. O camarada era baixinho, raquítico e com olhos grandes e esbugalhados. Materialize a figura. Leiam, vão se divertir. Coisa de carioca mesmo.....

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