quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mestre Lula

Dizem que morrer dormindo é a melhor das mortes. Se é que há uma morte boa. E foi desse modo que deu adeus à vida um grande amigo, mentor, exemplo e companheiro, inicialmente de meu pai, mas por tabela, tornou-se muito próximo a mim durante minha adolescência.

Luiz Gonzaga Marques da Silva. Para muitos que possam ler essas palavras, deve soar apenas como um nome ao léu, mas para mim representa um cidadão culto, honesto e sui generis. Lula, como era conhecido, cresceu com meu pai na minha velha Satuba. Ele foi jogador profissional do CSA e conseguiu se formar em Agronomia pela Ufal, paralelamente.

Como mais velho entre seis irmãos, ajudou o patriarca Antonio – seu pai – a criar o resto da prole. Educou com lições de moral, retidão e honestidade. Até hoje sua palavra era lei e seguida cegamente pela família.

O conhecia desde que me entendo por gente, e sempre nas comemorações de amigos e familiares, Lula vinha com seu excelente gosto musical e serestas românticas inesquecíveis. Ateu por opção, a religião era um tema que não tocava. Política e futebol, ele era mais flexível. Homem forte e sereno, Lula sempre me incentivava a seguir na vida com leitura e probidade.

Até como esportista, ele queria que eu fosse atuar em seu clube na cidade, o mais tradicional de Satuba, o América. Aos 15 anos, eu era a revelação do torneio da cidade, e foi num baile municipal que ele comprou meu passe, imaginem só. E já um pouco mais velho, com uns 17, eu titular da lateral esquerda num clássico, eu cometo a besteira de fazer uma falta próximo a área e ser expulso, quando ele era o zagueiro que me cobria na jogada.

Esperei uma bronca homérica, até por que ele tinha moral e respaldo pra fazê-lo. Ele com a sabedoria e a paciência de um monge, bateu em meu ombro e viu em meu olhar o sinal da decepção comigo mesmo, ele então disse, que estava tudo bem. “É a vida Edu, deixa pra lá, você fez o melhor”, abrandou.

Lula deixou o exemplo de que correr não apressa a vida, não ajuda. A conversa franca, aberta e consciente era sua arma fatal para resolver os problemas sejam familiares ou de amigos.

Fica aqui seu legado. Lá do céu imagino sua voz rouca e seu andar manso, como era alto, ele chegou longe, muito além do que um jovem boiadeiro, estudante e jogador profissional poderia alcançar. E ele foi. Saudades, grande mestre Lula, saudades.

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