quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Perda: sabe tratar?


Há sentimento pior que o de perda antecipada? Quando você sabe que vai perder um ente querido, algum parente em estado terminal, sabemos que o fim está próximo, porém não nos conformamos com a proximidade do desfecho e sua definição. Ninguém está pronto para perder algo ou alguém. Jamais. O camarada que se garante, no mínimo, está blefando ou quer impressionar.

Até o dia que efetivamente perdemos o tal objeto, não alcançamos o sonho, alguém nos abandona, ou seja, olhamos pra mão e não está mais lá...o vazio que fica é algo ensurdecedor, gigantesco. O silêncio se torna maior que o mundo. É cruel e devastador. Ficamos sem chão e perguntamos logo: "E agora?".

O hiato que abre em nossa existência cria dentro de nós perguntas, lacunas são percebidas, porém as atitudes que podem evitar tal abandono por vezes são tardias. Temos que fazer figa, rezar, orar, chamar Alá, Oxum, o que for. O fato é que quando o desespero do vazio nos abate não tem bom. As trevas e o alívio duelam dentro de nós.

É difícil lidar com o sentimento de perda, mas perdemos algo cotidianamente. Perdemos tempo, paciência, dinheiro, vida, o olhar, o sorriso, o sonho, a vontade de viver..Sentimos o desamparo daquilo que há pouco estava conosco e que tanto foi e é importante para nós.

Somos egoístas. O ser humano é obssessivo e necessita da posse para sentir-se mais forte e seguro. A perda enfraquece. Ela mostra ruína, desordem, incapacidade até de gerenciar e organizar, ou até mesmo de tomar conta do que se tem. Portanto, diante dessa possibilidade de perda temos que exercitar o desapego e a conformidade.

Vou deixar aqui uma carta que vi num blog muito legal ( http://luzdeluma.blogspot.com/2009/05/carta-ao-sentimento-de-perda.html).

Caro sentimento de perda:

Quando você vier, peço que seja tranqüilo e brando. Não me faça entrar em desespero, pois tenho que lidar com o que perdi, com o que ficou, comigo e com você.

Peço também para que não seja vazio e sem sentido, de tal maneira que, mesmo que sua presença seja algo negativo, eu possa colher algo que me faça amadurecer nesse estado ressentido.

Venha, e quando vier, faça-me sentir que perdi apenas o que realmente foi embora, e não todas as milhares de coisas ao meu redor que me fazem ter motivos para viver.

Já que você tem que vir, que me morda e me assopre, não me faça afogar em lágrimas e nem me sufocar no meu amor-próprio, mas sim a noção de que as coisas vão e vêm, e que nenhuma Vida é um caminho de terra trilhado no meio dos campos verdejantes, e sim asfalto esburacado no meio de uma cidade barulhenta e cheia de curvas.

Ao invés de me prender à coisa perdida, venha e me traga a Liberdade daqueles que amam puramente, sem egoísmo e com olhares gauché sobre tudo que já foi embora, prezando apenas pelo bem-estar dos que ficaram e de mim mesmo.

Enfim, queridíssimo Sentimento de Perda, seja Divino, e não Humano.

Esta carta foi assinada pelo Bruno do Blogue "Sem sombra de certeza".

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