segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eita povo brabo

Sempre fui fã de literatura histórica e por esses dias preparando-me para fazer uma matéria sobre a história da bala em Alagoas, deparo-me com uma situação que é a nossa. Desde os tempos da morte do bispo Sardinha, comido vivo pelos índios Caetés, ali pelas bandas que hoje fica o município de Coruripe, Alagoas não é lá uma terra bem vista pelo resto do país. Somos temidos.

Dizem que os sobreviventes da revolta de Canudos, na Bahia, se refugiaram em Alagoas e por isso um sentimento de cisma, valentia e revolta sempre fez parte do instinto do sertanejo.

Tudo era resolvido ou na bala ou na ponta de uma faca. A fama ecoa pelo ímpeto nervoso e até intempestivo dos antigos representantes nacionais da política local: marechais Deodoro da Fonseca, e Floriano Peixoto, além de Fernando Collor. Todos eles têm um quê de brabeza a mais.

Outro representante do ímpeto alagoano é o folclórico deputado federal pelo Rio de Janeiro, Tenório Cavalcanti, o Homem da Capa Preta, que fez história na Baixada Fluminense. Tenório e sua 'lurdinha' eram famosos entre os bandidos cariocas do início da segunda metade do século XX - lurdinha era a sua metralhadora.

Famílias e mais famílias eram dizimadas na bala. Como os Malta, os Calheiros - de Flexeiras, os Pagão e os Oliveira, em Rio Largo, os Mendes, em Palmeira dos Índios, enfim e por aí outras. Até a própria Polícia se permitia a isso, pois a fama da polícia alagoana - que matou Virgulino Ferreira da Silva - é de ser brava e corajosa.

Lembramos ainda o coronel Cavalcante, o saudoso Marcos Capeta, bandido procurado pelos quatro cantos do Nordeste. Até a forma do mapa de Alagoas é em forma de uma pistola, putzz. Existia até uma tabela imposta pelo Sindicato do Crime: juiz custava Cr$ 1.000.000,00; matar um deputado ou um prefeito custava Cr$ 500.000,00; vereador e delegado custavam Cr$ 200.000,00; a cabeça de um líder sindical era Cr$ 90.000,00; um professor - pasmem - Cr$ 250.000,00; comerciante, Cr$ 50.000,00; já para assassinar um comandante da PM era avaliado em Cr$ 2.000.000,00; o mais caro era matar o secretário de Segurança Pública, Cr$ 3.000.000,00. Engraçado, não tinha cotação ou valor, matar jornalista,promotor ou advogado. Piada, né!!!!

O crime institucionalizado levou até a formação da Gangue Fardada. O jornalista da Velha Guarda, Zito Cabral, chegou a dizer que se fosse fincada uma cruz branca em cada lugar do Centro de Maceió onde tombou uma vítima de homicídios do Sindicato do Crime, "o Centro seria um cemitério. Ninguém andava".

Desde aqueles tempos, entre 1950 até 1970, os líderes políticos ameaçavam pedir intervenção federal na segurança pública alagoana. Assassinato de políticos, advogados, juristas, cidadãos de bem, não é algo novo para o cotidiano alagoano. Uma pena mesmo, pois somos um povo ordeiro, calma, acolhedor e altamente cortez, mas o paradoxo se forma ao sermos comparados com o Afeganistão, com países em guerra. Ou seja, o que vemos hoje, com ou sem Sindicato do Crime não é novidade. Infelizmente!

Um comentário:

  1. Boa noite Cadu, vi nesse ótimo texto, uma citação do jornalista Zito Cabral. Sou sobrinho de Zito e gostaria de saber se vc tem algu material relacionado a ele.

    Abraço
    Natan Cabral

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