terça-feira, 15 de setembro de 2009

O segundo na Trindade


Vi um vídeo na web onde Maria Bethânia declamava o Poema do Menino Jesus, de Fernando Pessoa. Que lindo, como se não bastasse a união terna entre a voz singular da cantora baiana, a graça do poeta português fascina, encanta e hipnotiza.

O poema conta como seria se o Menino Jesus tivesse fugido do Céu. Como seria isso nos dias de hoje? Prefiro ficar com as palavras de Pessoa. Onde descreve como seria o Prodígio na terra.

Andando, brincando, sorrindo como uma criança humana comum. Fazendo travessuras, aprendendo, e fazendo até proveito de seu pouco conhecimento celestial, onde o Menino Jesus, ao saber das mancadas da humanidade, iria rir daqueles que são líderes, reis, chefes. Ele iria gargalhar com tamanha burrice dos nossos líderes terrenos. E se entristecer com as mazelas humanas, guerras e fome.

Mas como Fernando Pessoa tão perfeitamente conta, deixa-nos com essas impressões utópicas. Pois caso o Menino Jesus em pessoa caísse entre nós, seria mais um garoto de rua. Um escorraçado, humilhado e sem esperança. De nada valeria seu passado de Filho de Deus.

O jovem Jesus seria mais um nas esquinas, sem futuro, sem caminho ou rumo. Para fugir da fome, ele iria se entregar à cola de sapateiro, em seguida, o fumo era fácil. O crack então seria ainda mais ligeiro, pois com o corpo frágil e debilitado pela subnutrição, logo morreria, e mais uma vez, o segundo na Trindade Divina, padeceria diante de nossos pecados.

Prefiro então ficar no panorama paradisíaco e sereno de Pessoa. Onde acolhemos o Prodígio, o tratamos como tal, pois o ser humano não deve diferenciar seus semelhantes. Devemos tratar, dar carinho, e fazer adormecer aqueles que precisam. Não o fazemos diariamente tal procedimento, enfim, é uma pena.

Mas de todo modo, podemos sonhar e dormir para realizar tal sonho. Acolher, contar histórias, dar descanso ao seu hóspede. Para que em retribuição, o Filho de Deus, onde quer que esteja, ou no Céu ou na Terra, acolha suas dores e possa fazer de nossos sonhos a realidade que possamos pegar.

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