sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O mais belo luar do mundo


Indo diretamente para o ano da graça de nosso senhor de 2006, recordo-me quando cobria a corrida governamental alagoana. Naqueles tempos minha casa era o Sertão. Indo pra cima e pra baixo, poeira, sol, luar, frio, solidão, buzinaços e tapinhas nas costas eram minhas companhias. Mas remeto-me aos meus pensamentos naqueles dias de conflitos.

Lembro-me das noites mais brilhantes que vi na vida. Jamais vi estrelas tão grandes e reluzentes. E naqueles tempos um turbilhão de pensamentos me ocupava. Não apenas a disputa política, mas minha briga interna. Meus desejos, meus planos e objetivos, além das incertezas dali pra frente.

Nunca tinha visto cenário tão belo. Nas viagens onde só nos restava o silêncio da estrada, planava em meus pensamentos, mas por vezes pela pressa, ia na carroceria mesmo da caminhonete admirando o panorama que me chamava à contemplá-lo. Era o meu momento de paz. Conversava com os astros. A lua, as nuves ainda brancas, destacavam-se no negro céu do Sertão.

Já as estrelas eram os adornos que enfeitavam minha noite triste e geralmente cansada. Sinto saudades desse tempo. Lembro de dias como que estive no município de Feira Grande, alto Sertão alagoano. Lá vi o real significado da expressão noite clara. A noite virou dia não apenas pela quantidade de faróis dos carros que disputavam espaço na estreita pista sertaneja, mas também pela briga luminosa entre as estrelas, os faróis, e a lua cheia a dispontar no crespúsculo.

O caminho da estrada principal para se chegar a Feira Grande dura uns 13 km a 15 km. Agora imagine o sol fumegante do Sertão caindo e os faróis dos automóveis disputando espaço com o brilho luminoso da lua, e ainda o pontos brilhantes no céu chamavam meus olhos para um duelo desleal e magnífico. Na verdade eram pontos de luz que se perdiam no breu da noite. Um lindo espetáculo que nunca saiu da minha cabeça.

Na carroceria da caminhonete contemplava esse visual e refletia sobre os mais diversos assuntos. Já não estava ali, já não era eu. Pensava em futuro, na vida, coisas que todo mundo pensa, nos mais diversos instantes dessa nossa trajetória. Mas é aquela paz do vazio, do nada, que nos faz pensar e pesar nossas atitudes e caminhos que tomamos.

Por vezes é no silêncio do nada que conseguimos enxergar melhor nossos erros e focar mais em nossos alvos. Talvez precisamos mais de concentração e foco no que queremos. É assim, mirando em nossas metas que chegamos longe, até mesmo onde nem imaginávamos chegar. Que assim permaneça. Sinto falta da paz da imensidão sertaneja, e do seu esmagador céu negro, mas não preciso dele para saber o que quero.

Do mais belo luar do mundo, guardo os momentos da brisa fria afagando meu rosto e me enchendo de vida e plenitude. É a paz e inércia que todos querem. A tranquilidade que apenas é interrompida pelo sossegado cantar dos grilos e pelo rasgar das aves da noite. Ai que saudades do Sertão...pense mais, porém haja mais, com a ajuda sábia da escuridão, reflita sobre seus caminhos. São neles que ou estaremos sob a luz da lua ou perdido nas trevas do nada.

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