quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma história de um coração partido

Bem diferente do que Gabriel Garcia Márquez diz em Memórias de Minhas Putas Tristes, onde um velhote, apenas no fim da vida conhece o amor de verdade, hoje conto uma história de um passado distante, mas que na época me comoveu.

Cada um de nós sabemos a falta que faz um amor de verdade, imagine você ter que fantasiar um amor diariamente. Toda noite um parceiro, uma história. Certa vez, em uma despedida de solteiro de um amigo meu, um grupo de amigos foi a uma casa de campo, um prostíbulo.

Chegando no baixo meretrício, conheci Adriana (nome fictício). Ela foi designada pela casa para animar o pessoal. Ela dançava, se esfregava, ralava com um e outro. A morena já aparentando meia-idade era só sorrisos.

Sempre fui muito mais de observar, até em uma zona. Minha timidez e descrição me impediam de me unir aos demais fanfarrões. Não me arrependo. Até que em um certo momento, ela me puxa e saímos do ambiente escuro e ensurdecedor pela música na vitrola. Não rolou nada, confesso.

Adriana me diz que eu era diferente. Não, ela não me chamou de gay. Ela percebeu minha inibição e começou a falar que não gostava dessa pegação. Em tom emocionado de desabafo, estranhamente ela encontrou em mim um amigo temporário.

Ela confidenciou que era natural de São José do Rio Preto, interior paulista, tinha três filhas e como toda zelosa mãe beija a foto das filhas ao se deitar depois de uma noite de trabalho. Saudosa, Adriana se emociona e diz que a mais velha de 18 anos quer vir para junto dela. Mas ela não permite. “Queria que ela estudasse”, lembro bem dessas palavras, pois era o legado mais justo que ela queria deixar para seus rebentos.

Adriana não se orgulhava da profissão que a vida ofereceu. Seu rosto cansado, enrrugado e sofrido eram a imagem da desilusão. Depois de ouvir seu pranto, perguntei por onde ela tinha andado. Como uma cigana, Adriana passou por São Paulo, Foz do Iguaçu, Pedro Juan Cabalero (PAR), Uruguai, Paraná, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e Alagoas.

Aqui ela andou pela periferia, andou de trem, mas queria mesmo era conhecer o litoral alagoano. Sonha em se banhar nas piscinas naturais da Pajuçara. Entre desejos e lamúrias, tentei distraí-la. Pedi que ela tivesse fé, confiança em Deus. Ela me respondeu que era apenas isso que a permitia viver. Pois não sabe o que vem em cada anoitecer.

A tristeza de Adriana me tocou. Mesmo após anos, recordo com clareza de nosso diálogo. Depois de anos, nunca mais ouvi falar de Adriana. Se está viva ainda não sei. Se foi embora para seguir seu caminho andante? Também não sei.

Adriana é mais um exemplo de como a vida acaba passando e não percebemos. Certamente, mais jovem, ela foi cheia de sonhos, mas mil motivos impossibilitaram as realizações. Portanto, meu povo, não se acanhem, tentem, busquem seus sonhos. É claro nosso insucesso não nos fará ‘putos’, mas a tristeza de nossa colega, nos tomará a alma. A frustração ficará em nossas memórias, em nosso coração sem paixão, sem amor. Só lamentos, lágrimas e desejos partidos.

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