quarta-feira, 24 de março de 2010

Água no Sertão



Somente em lugares de extrema aridez que damos o devido tratamento, ao principal elemento que permite vida na Terra. É no Sertão que conhecemos através do rosto do sofrido sertanejo a falta que a água faz. Traços fortes, pele escura castigada pelo sol, mãos grossas, olhar brilhante confiante em dias melhores manifesta a certeza que o sofrimento um dia finda.

Mas toda essa realidade tão presente tanto em Alagoas, como nos demais estados do Semi-Árido brasileiro, está com dias contados para mudar. Nesta terça-feira, 23, as bombas do Canal do Sertão chegaram ao município de Delmiro Gouveia.

Gente como Miguel Ramalho, o Miguel do Bigodão, traduziu por meio de um longo aboio a sua felicidade em testemunhar tal façanha - ver água numa região tão necessitada. “É a maior alegria do mundo ter o Canal do Sertão aqui e realizado”, afirmou.

Quando perguntado sobre o que isso representa para ele, um simples vaqueiro do Sertão de Alagoas, seu Miguel explica do modo mais provinciano possível: “é água pra gente, meu fio”, respondeu. O bigodão, como é conhecido, vai além e numa breve conversa diz que uma obra como essa ajuda até a perpetuar e reforçar os costumes locais.

É quando ele aponta para o mais jovem vaqueiro do seu grupo da comunidade de Jardim Cordeiro, o precoce Diego, de 5 anos. Montado em seu cavalo e devidamente uniformizado com seu gibão, espora, chibata e chapéu, os olhos do pequeno vaqueiro já espelham a firmeza e a serenidade de um vaqueiro experiente.

Olhando para Diego, seu Miguel ainda diz que é preciso ser como uma palma forrageira, crescer forte mesmo nos períodos de dificuldade, e assim servir de exemplo para os seus, sem ‘amarelar’ e sem enfraquecer, como uma palma verde e forte. “Nosso vaqueiro mais velho tem 82 anos, e quero que ele chegue pelo menos aos 70. Se continuar assim, ele será nosso maior vaqueiro”, orgulha-se.

“A água vai proporcionar tudo isso, todo nosso conhecimento de anos e anos vamos passar com saúde para os que virão depois de nós”, ainda filosofou o sábio vaqueiro. Na conversa, seu Miguel toca novamente um aboio e dispara demonstrando o orgulho em ser sertanejo e assim disseminar para todos os cantos do estado a força e fé que o vaqueiro tem em seu coração.

“Eu acredito que temos que distribuir esperança e incentivo”, disse. “É isso que estão fazendo conosco neste momento, pois sem o incentivo, o homem esmorece e fraqueja”, ressaltou. Foi então que saltou dos olhos do vaqueiro uma lágrima em sinal da fé sertaneja que não se abala.

“Tanto demorou mais chegou, muitos diziam que isso não ia acontecer”, finalizou.
Seu Miguel Bigodão é apenas um dos mais de 300 vaqueiros dos mais diversos lugares do Sertão alagoano, que presenciaram a chegada das bombas do Canal do Sertão à cidade de Delmiro Gouveia, nesta terça-feira.

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