terça-feira, 21 de setembro de 2010

Mais uma história da bola


Boleiro não nasce estreia. E no Brasil acontece em cada esquina. Todos os dias, nove em dez casas brasileiras nasce um candidato à craque da bola. Tem pimpolho que já vem com a bola colada no pé. O blogueiro aqui que vos escreve certamente não fui um desses. Mas calma lá, não sou um perna de pau também. Fiz tudo direitinho. Começei a bater bola mesmo aos 6 anos. Moleque de rua mesmo, descalço, na lama, na rua, na areia...como era bom esse tempo.

Em um terreno ao lado de minha casa, de propriedade de um empresário local - já falecido - seu cão corria atrás dos pivetes que teimavam em jogar no lugar. Valeu a pena! Era diversão garantida. Os torneios infantis passaram logo. O time de minha cidade foi longe. A base do time durou dois anos e fomos até as oitavas num universo de mais de 200 clubes.

Depois vieram os tempos de juvenil. Fui para clubes da capital Maceió. Flertei na época até com o meu clube do coração: Vasco da Gama. Sem sucesso. Tinha que estudar. Começei a faltar nos treinos. Uma pena. Mas continuei jogando em minha cidade. Fui a revelação do torneio municipal. Ano seguinte fui à peso de ouro para o mais tradicional clube da cidade, onde meu pai também jogou. Responsa!

Paralelo ao futebol, o futsal também me atraia. Naquele tempo não podia ver uma bola. Pense na secura. Bons tempos. Odiava o rótulo de filhinho de papai, e em campo correspondia e tirava a máscara que me colocavam. Era uma vida dura.

Naqueles dias, carregava algo muito mais pesado que a camisa ensopada de suor, ou o peso da bola nas pernas. Sempre me cobrei bastante, e nunca me satisfiz com o pouco. Tudo por que tinha um ranso nas peladas de famílias e amigos. Curiosamente meu pai jamais me chamava pro time dele. Para mim era a primeira derrota. Mas aquilo mexia comigo. Incentivava.

Eram naquelas noites de quarta-feira que eu me colocava todo meu pouco talento na minha perna esquerda. Corria todo o campo, driblava, defendia, chutava e quando fazia um gol, era uma vitória dupla, não pela equipe, mas pessoal. Mas hoje entendo por isso acontecia. Ele queria tirar o melhor de mim. E sabia como tirar. Era o jeito dele de dizer 'vai, seja o melhor'.

Hoje, joguei no principal estádio da capital, o Rei Pelé. Em um jogo épico pelo torneio do servidor do Estado, minha equipe virou um jogo quase perdido. Foi aquele 2x1 gostoso de jogar. Emoção à flor da pele, pois atuei com dois estiramentos, um em cada coxa. A dor era insuportável. Quase consegui torcer o tornozelo. A dor está insuportável, pode crer. Mas foi nesse momento de dor, atrás de um atacante corredor do time adversário que lembrei de meu pai. A superação, a perseverança.

Meu velho não pode mais jogar, por problemas cardíacos. Sepultaram ele. Tiraram dele seu maior prazer. Porém, seu exemplo continua comigo. Tanto no futebol, quando ele botou a primeira bola no meu pé, até hoje.

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