quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Apenas força e fé...só isso!




Nosso corpo é cheio de surpresas e armadilhas que nem sempre estamos prontos para encarar. Meu drama pessoal mostra justamente esse paradoxo humano que temos que conviver. Desde sexta-feira, Heverlane, minha noiva, está lutando por sua vida. Essa luta incessante parece ser sem sentido, em vão, já que como diz o ditado popular, "nós só vamos na hora certa". O cômico é que fazemos das tripas coração para permanecermos nesse mundo louco, cheio de intolerância, injustiça e maldade. De todo modo quero sim esse egoísmo e a quero ao meu lado até ficarmos velhinhos. Tenho esse direito e por isso estamos seguindo nessa luta diária de empolgação, esperança, decepção e agonia.

Hever já não tem mais o baço - órgão responsável pela produção sanguínea. Pelo idos de 2002, apareceu um líquido nele que ameaçava essa produção, ele foi retirado, mas esse estranho corpo nosso é tão maravilhoso, que criou por si só um baço acessário para compensar a perda do orginial. Além do baço, ela não tem também o apêndice, mas como se trata de órgão vestigial, sem problema.

Só que Heverlane vem dar outro susto ao se envolver num grave acidente automobilístico em Coruripe, em 2007. Quase perde a vida, e pelo bem, nada aconteceu. Parece até que ela gosta de dar sustos, bobagem, né. Teste para cardíaco. Mas enfim, voltando a atualidade, na última sexta, ela vinha de um quadro viral apresentando leve febre, dores no corpo e indisposição. Deixou de viajar retornando para Maragogi em virtude disso. Vi em seu corpo uma série de pequenos hematomas na pele, espalhados por todo o corpo - era o prenúncio que viria.

Passada a sexta, o sábado vem com esperança. Só que persistem os sintomas e no final da tarde, ela começa a reclamar de um cansaço excessivo. Uma agonia no peito que não tem fim seguido de uma arritimia sem justificativa. A família tem diversos casos de problemas cardíacos. O caso começa a tomar proporções assustadoras. Contra a aceleração do coração, um sustrat - remédio para cardíaco - foi aplicado, porém, toda medicação desse gênero tem efeitos colaterais, como por exemplo, a boa e velha enxaqueca.

No domingo, os sintomas se agravam, vamos ao Hospital Artur Ramos. Porém, após vomitar durante o caminho, sente-se melhor. Na Emergência, é medicada por um clínico. Um tilatil e soro, nada mais. Pecado e erro crucial. Nenhum tipo de exame para identificar se a paciente tinha dengue foi exigido e ao chegar o exame de sangue de rotina, foi apontado uma redução assustadoramente drástica do número de plaquetas sanguíneas. Status normal é de 150 mil, o de Heverlane estava em 9 mil. Fraquíssima. Quadro que poderia apresentar facilmente uma leucemia. O desespero toma conta dela e de mim, claro. Não acreditei. O pranto tomou conta dela, mas eu não podia me entregar tinha que dar força.

Três exames foram feitos naquele domingo. Repetidos pela descrença do médico, assustado com o resultado. Hever não queria ficar ali e assinamos um termo de liberação - a contragosto do médico. Em casa, não há melhora a noite foi a mais longa da minha vida. Sem sono. Só lágrimas e insônia, imaginando um diagnóstico quase mortal. E pela manhã decidimos ir ao Hemocentro de Alagoas - o Hemoal. Porém a fila que lá estava mataria e á pálida e fraca Heverlane. Voltamos ao Artur Ramos, após Heverlane reclamar de tontura e ter vomitado duas vezes. A ficha só cairia ali do quadro grave que se apresentava.

A internamos no hospital, muito debilitada, começamos uma peregrinação em busca de um hematologista já que a instituição médica não dispunha de tal. O quadro que ninguém explicava nos obrigou a cogitar uma transferência de helicóptero para Recife, já que de ambulância ela não suportaria. Só no começo da tarde, após uma bateria de exames, a hematologista Marta Galvão decide nos atender e acompanhar o caso. Ela descarta o quadro leucêmico para a tranquilidade geral.

Porém, quando se aguardava uma melhora gradativa, já que suas plaquetas tinham aumentado para 40 mil, ela teve uma piora na tarde de terça-feira. O coração apertou. Ao chegar no hospital e ver o povo chorando, meu chão sumiu. Uma esquemia transitória teria nos assustado e até agora a apreensão permanece. O fluxo de sangue foi retomado normalmente. Ela está bem, recuperando-se. Ainda fraca, mas lentamente.

Fico ao lado dela na cama apenas alisando seu rosto, seu cabelo, com a pergunta engasgada "quando isso tudo vai terminar?". O incômodo é presente. Tudo bem que todo mundo se preocupa, presta solidariedade, porém a vontade mesmo é de ficar sozinho com ela. E esquecer os momentos de angústia e lágrimas que tenho passado. Agradeço a todos que têm se mostrado interessados pela situação dela e peço que continuem com orações e corrente positiva.

Espero por mais uma surpresa que esse nosso corpo possa nos apresentar, porém, agora pro lado bom.

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