Nosso corpo é cheio de surpresas e armadilhas que nem sempre estamos prontos para encarar. Meu drama pessoal mostra justamente esse paradoxo humano que temos que conviver. Desde sexta-feira, Heverlane, minha noiva, está lutando por sua vida. Essa luta incessante parece ser sem sentido, em vão, já que como diz o ditado popular, "nós só vamos na hora certa". O cômico é que fazemos das tripas coração para permanecermos nesse mundo louco, cheio de intolerância, injustiça e maldade. De todo modo quero sim esse egoísmo e a quero ao meu lado até ficarmos velhinhos. Tenho esse direito e por isso estamos seguindo nessa luta diária de empolgação, esperança, decepção e agonia.
Hever já não tem mais o baço - órgão responsável pela produção sanguínea. Pelo idos de 2002, apareceu um líquido nele que ameaçava essa produção, ele foi retirado, mas esse estranho corpo nosso é tão maravilhoso, que criou por si só um baço acessário para compensar a perda do orginial. Além do baço, ela não tem também o apêndice, mas como se trata de órgão vestigial, sem problema.
Só que Heverlane vem dar outro susto ao se envolver num grave acidente automobilístico em Coruripe, em 2007. Quase perde a vida, e pelo bem, nada aconteceu. Parece até que ela gosta de dar sustos, bobagem, né. Teste para cardíaco. Mas enfim, voltando a atualidade, na última sexta, ela vinha de um quadro viral apresentando leve febre, dores no corpo e indisposição. Deixou de viajar retornando para Maragogi em virtude disso. Vi em seu corpo uma série de pequenos hematomas na pele, espalhados por todo o corpo - era o prenúncio que viria.
Passada a sexta, o sábado vem com esperança. Só que persistem os sintomas e no final da tarde, ela começa a reclamar de um cansaço excessivo. Uma agonia no peito que não tem fim seguido de uma arritimia sem justificativa. A família tem diversos casos de problemas cardíacos. O caso começa a tomar proporções assustadoras. Contra a aceleração do coração, um sustrat - remédio para cardíaco - foi aplicado, porém, toda medicação desse gênero tem efeitos colaterais, como por exemplo, a boa e velha enxaqueca.
No domingo, os sintomas se agravam, vamos ao Hospital Artur Ramos. Porém, após vomitar durante o caminho, sente-se melhor. Na Emergência, é medicada por um clínico. Um tilatil e soro, nada mais. Pecado e erro crucial. Nenhum tipo de exame para identificar se a paciente tinha dengue foi exigido e ao chegar o exame de sangue de rotina, foi apontado uma redução assustadoramente drástica do número de plaquetas sanguíneas. Status normal é de 150 mil, o de Heverlane estava em 9 mil. Fraquíssima. Quadro que poderia apresentar facilmente uma leucemia. O desespero toma conta dela e de mim, claro. Não acreditei. O pranto tomou conta dela, mas eu não podia me entregar tinha que dar força.
Três exames foram feitos naquele domingo. Repetidos pela descrença do médico, assustado com o resultado. Hever não queria ficar ali e assinamos um termo de liberação - a contragosto do médico. Em casa, não há melhora a noite foi a mais longa da minha vida. Sem sono. Só lágrimas e insônia, imaginando um diagnóstico quase mortal. E pela manhã decidimos ir ao Hemocentro de Alagoas - o Hemoal. Porém a fila que lá estava mataria e á pálida e fraca Heverlane. Voltamos ao Artur Ramos, após Heverlane reclamar de tontura e ter vomitado duas vezes. A ficha só cairia ali do quadro grave que se apresentava.
A internamos no hospital, muito debilitada, começamos uma peregrinação em busca de um hematologista já que a instituição médica não dispunha de tal. O quadro que ninguém explicava nos obrigou a cogitar uma transferência de helicóptero para Recife, já que de ambulância ela não suportaria. Só no começo da tarde, após uma bateria de exames, a hematologista Marta Galvão decide nos atender e acompanhar o caso. Ela descarta o quadro leucêmico para a tranquilidade geral.
Porém, quando se aguardava uma melhora gradativa, já que suas plaquetas tinham aumentado para 40 mil, ela teve uma piora na tarde de terça-feira. O coração apertou. Ao chegar no hospital e ver o povo chorando, meu chão sumiu. Uma esquemia transitória teria nos assustado e até agora a apreensão permanece. O fluxo de sangue foi retomado normalmente. Ela está bem, recuperando-se. Ainda fraca, mas lentamente.
Fico ao lado dela na cama apenas alisando seu rosto, seu cabelo, com a pergunta engasgada "quando isso tudo vai terminar?". O incômodo é presente. Tudo bem que todo mundo se preocupa, presta solidariedade, porém a vontade mesmo é de ficar sozinho com ela. E esquecer os momentos de angústia e lágrimas que tenho passado. Agradeço a todos que têm se mostrado interessados pela situação dela e peço que continuem com orações e corrente positiva.
Espero por mais uma surpresa que esse nosso corpo possa nos apresentar, porém, agora pro lado bom.
Vamos ter fé na vida, Cadu!
ResponderExcluirEla vai ficar boa.
Estou rezando.
beijos,
Polly.