segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Andando por aí


Em mais uma viagem por aí, fui parar no povoado de Saúde de Baixo, em Batalha (AL). Fui fazer a cobertura jornalística da visita do governador Teotonio Vilela, que estava levando água potável ao povoado. Bem, como em todas as viagens, adoro cair em campo, pois é lá onde sabemos das maiores adversidades e necessidades do povo.

O dia até que não estava tão quente, tava chovendo e nos intervalos o velho e causticante sol do Sertão dava o ar da graça. Após muita poeira e barro, chegamos ao povoado e de pronto fui procurar alguns personagens para minha matéria.

Foi quando encontrei um casal muito interessante. Seu Miguel Ernesto, um velho e cansado caçador que deixou de lado a espingarda para criar filhos e netos em sua humilde casa. Ao seu lado está sempre sua esposa, D. Inês, um amor de pessoa que cativa qualquer um com apenas um punhado de prosa.

O casal sertanejo adora uma boa conversa, e de papo pai, papo vem, ela confidencia que queria conversar com o governador e saber o que ele tinha a dizer sobre algumas contas de água absurdas que tinham chegado em sua casa.

Pela foto acima o leitor pode perceber que não há possibilidade alguma de uma residência desse porte gastar R$ 3 mil em conta de água, e ainda mais quando não há água. É isso mesmo, o casal não desfrutava dos benefícios da água encanada, mesmo morando ao lado do Rio Ipanema, que banha a cidade de Batalha.

A água encanada chegou apenas com a ação do governo do Estado, mas isso é outro papo. Queria mesmo era resolver essa injustiça da conta. Qualquer tribunal daria ganho de causa à família, é claro, mas como uma família tão humilde e simples poderia contratar um advogado, sei sei sei, tem a Defensoria Pública. Tudo bem...

Mas o interessante é que diversas pessoas em todo lugar do mundo dizem que vão conversar com seus dirigentes, mas nunca vão, ou por receio, vergonha, acanhamento, ou simplesmente os seguranças do cara não deixam. De todo modo, peguei seu depoimento, e não apostava coisa alguma que ele fosse lá.

Engano. Ela foi. De cara limpa e peito aberto. Ela foi. Chegou, conversou com o cara, e ouviu o que esperava. As contas esdrúxulas foram anistiadas pelo governador. Como se diz, quem não chora, não mama. Muito legal, e sorte minha que na minha matéria, tinha a colocado como meu personagem. Poderia ser qualquer outra pessoa do povoado a reclamar, mas justamente a dona de casa que eu tinha conversado, entrado em sua casa, a mulher que tinha me confidenciado a vida, falado da alegria do neto Carlos Michael, em tomar banho de água encanada, enfim. Foi justamente, ela.

Isso me tocou, sorte minha de tê-la como personagem de minha matéria? Não sei. Sei que foi muito legal ter o exemplo dela. Algo a incomodava, ela foi lá e reclamou e conseguiu. Não desistiu. É isso que o Sertão faz conosco. Tornamo-nos mais fortes. Não tememos. E é assim que é sertanejo, o nordestino.

Bem que o mestre Graça dizia. “O nordestino antes de tudo é um forte”, assim o disse.

Um comentário:

  1. Que história legal!
    E viva o Mestre Graça!
    Ah, Cadu... Tira a mão do.... saco! kkkkkkkkkkkkkkkkkk Cuidado com os paparazzi!

    Obs.: Ganhei o selo da Mylle e também te dei! Beijos!

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