terça-feira, 1 de abril de 2014

Tem gente que sente falta...



Nesta mesma data, há uns 50 anos, estávamos vivendo um momento de exceção. Tempos de chumbo, inimagináveis para quem nasceu de 1985 pra cá. Sou da geração de 1980, tudo bem, mas nem minha curiosidade, minha leitura, filmes ou demais relatos podem dar a noção exata do que o país viveu por 21 anos com os militares no poder. Daí vem meu interesse. Tudo aquilo que não é fácil, me atiça e me provoca a buscar sempre mais informação.

Mas meu post de hoje é para lamentar o óbvio. Muitos do que viveram sua juventude ou idade adulta durante a ditadura sentem falta daqueles dias negros. Sim, pasmem! E gente comum, que anda nas ruas, livres e soltas, vão ao cinema, enfrentam fila e tudo mais. E foi justamente em uma fila de uma casa lotérica que uma jornalista amiga - Andrezza Tavares, repórter de Política do jornal Tribuna Independente, de Maceió/AL - relatou ao retornar a redação.

Ao tentar pagar um boleto bancário, a jornalista foi obrigada a ouvir um senhor de idade a esbravejar reclames mil contra a democracia no Brasil, em uma fila cumprida da casa. O cidadão estava revoltado com a demora na fila e soltava: "Na época da ditadura não tinha isso. Era outra coisa". A colega não soube explicar na verdade qual a causa da cólera do ancião, mas nada pode justificar tamanha blasfêmia.

A manifestação do senhor desconhecido deve ser recorrente em diversos rincões e capitais brasileiras. Muita gente ainda deve sentir falta daquele clima de tensão extrema e terror. Não existia essa liberdade de andar por aí, simples assim. Falar? Necas; omitir opinião? Vestir diferente? Jamais!!! Não é história ou lorota da imprensa, exagero ou algo assim. Tudo era proibido mesmo. De certo em alguns locais sentia-se mais os efeitos da repressão. Há poucos relatos, por exemplo, de protestos e caçadas, perseguições em solo alagoano.

E ainda há pessoas que negam o ocorrido, como o historiador Marco Antonio Villa. Calmaê! Vi que muitos rotularam logo Villa de tucano, serrista. Bem, aí já denota uma crítica partidária, que não vem ao caso. Os argumentos do historiador se limitam a dizer que o Brasil apenas ficou por anos com um governo não eleito pelo povo, e só!!!! Avááááááá....com todo respeito. Mas como estamos, graças a Deus, em dias de 'paz' e democracia ele pode dizer o que bem entender, resta a saber se vamos aceitar ou não.

Tenho certeza que diferentemente deste senhor da casa lotérica, apesar de não ter vivido nos tempos de chumbo, não sinto falta alguma deste tipo de regime. Eu não vivi, ok, ok, ok, mas não me orgulho de ter na história de meu país uma mancha como tal. Torturas, mortes, corpos jamais encontrados, violações dos direitos humanos, políticos e civis, cassação de mandatos eletivos, enfim. Tudo em nome do Estado, tudo contra uma possível 'invasão' comunista no Brasil. Ora essa!!! Graças ao apoio do governo ianque ficamos nas trevas por 21 anos.

Um preço alto o Brasil pagou entre 1964 até 1985 para se livrar de um regime comunista. Fontes contam que guerrilheiros comunistas tinham planos para invadir o Brasil, transformando a nossa terrinha em uma segunda Cuba. A visita de Che Guevara, a ascensão de Fidel Castro em Havana, uma possível queda do presidente João Goulart pelo lado vermelho do planeta, todos estes eram argumentos apresentados em prol do Golpe Cívico-Militar. Cívico por que o mandato presidencial foi cassado ainda com Jango no Brasil. Militar, já sabem, com o derretimento do Estado Democrático de Direito por parte das forças militares.

Como reza a cartilha do jornalismo, não poderia dar apenas o lado revolucionário. O modelo econômico utilizado pelos presidentes verde-oliva foi responsável por uma modernização conservadora, que desenvolveu as cidades em detrimento a concentração de renda e exclusão da classe operária, provocando a conhecida favelização, mas uma modernização da nossa indústria e amadurecimento de nossa economia. Vale lembrar que até a Igreja Católica era a favor do regime, assim como parte das classes A e B, que temiam os revolucionários.

O debate é longo e muito legal. Amanhã tem mais, prometo. Mesmo assim não sinto falta alguma da ditadura.

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