segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Sertão e o anjo


Pena que não tinha, na noite do último sábado, uma câmera fotográfica potente para registrar o luar que vi no céu do município de Canapi, Alto Sertão de Alagoas. Acompanhando mais um evento político, estive no Sítio Campo Grande. Só para situar o leitor, o único trecho não asfaltado da extensa BR 316 corta o 'triângulo das bermudas' do Semi-Árido Caeté. Moradores e frequentadores dos municípios de Canapi, Inhapi e Mata Grande sofrem noite e dia com a poeira da rodovia federal.

E foi em meio a esta poeirada sem fim chegamos ao pequeno povoado. Local de difícil acesso, cortando fazendas e sítios menores, uma ruma de políticos conseguiu lá chegar para contar as boas novas do governo federal e municipal. Porém, o que vim aqui contar nada tem com isso. Mais uma vez, a representação de Deus apareceu para mim. Deixa dizer.

Logo ao chegar no povoado, como uma boa equipe avançada sabe atuar, fomos conversar com os nativos e confirmar se ali era mesmo o local para a referida pauta. Confirmada a agenda, eu e meu repórter fotográfico, Fernando Roberts, encontramos de cara - e casualmente - a secretária de Assistência Social de Canapi, srª Rita Tenório. Senhora de boa apresentação, animada, acolhedora e de riso fácil, assim a descrevi de primeira.

Ao lado da distinta srª, conheci a assessora de comunicação do prefeito canapiense, Roberta Sampaio. Bem, conversa vai, papo vem, o evento começa, porém seu fim traz o início de meu tormento. Por uma falha de comunicação, eu e meu repórter acabamos ficando pra trás da comitiva. O comboio foi-se sem nós. Ficamos então literalmente 'no mato sem cachorro', neste caso, sem locomoção. Zanzamos pelo povoado, quase esvaziado de gente, órfãos, até que......olho para o lado e vejo a caminhonete de dona Rita saindo do local. Minha salvação!!!! Clamei por Roberta.

Imagine você, um estranho te para, pede carona, você cede e o leva para ele mais necessitava. Assim ocorreu! Dona Rita não iria para lugar nenhum após aquele evento político, mas se prontificou em nos conduzir a um lugar seguro. Constrangido por meu vacilo, fiquei observando aquele céu estrelado que tanto amo. Gente, vivemos em tempos de quase guerra civil, ficaríamos a esmo num local afastado da civilização, sem comunicação e pior, sem dinheiro - pela primeira vez, deixei minha carteira na mochila, que estava em nosso carro. Quase entrei em parafuso.

Deixando de lado o problema, o céu estrelado me teletransportou para outro lugar, fui onde a imaginação - ou a saudade - me leva. Calo-me e entro dentro de mim. Fico apenas olhando para aquele horizonte negro, porém iluminado por uma lua distante, mas de tão branca e reluzente, ela acaba disputando com as estrelas a nossa atenção. Uma briga boa sem dúvida.

Meu Sertão amado, já já estarei de volta, entretanto ainda mais ligado e com a mesma paixão por esta terra. À dona Rita...minha eterna gratidão!!!!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A política na tela e os políticos de olho nela


A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Ambos acabam se confundindo, copiando-se simultaneamente. As séries de TV estão se especializando em reproduzir a vida cotidiana e, claro, como parte da estrutura social, o dia a dia dos políticos. Suas manias, trejeitos e costumes estão na tela. Sim, pasmem, políticos acompanham o que rola na TV e como qualquer cidadão têm suas preferências. O seriado recordista da preferência dos nossos representantes é o americano House of Cards.

O portal R7 e uma edição do mês passado do jornal Correio Braziliense divulgaram um levantamento sobre os seriados televisivos que detém a audiência dos poderosos. Salvando as comparações e diferenças políticas, como também de estrutura de sistema, os seriados americanos dispõem da atenção de nossos políticos por tudo que lá eles fazem em busca do poder. Como o Game of Thrones, que não é uma série sobre a política comum, porém, fala da ânsia pelo poder, disputa familiar por ascensão, além de tramas, artimanhas, estratégias para se chegar ao topo a todo custo. Game of Thrones, da HBO, é a série preferida de nossa presidente Dilma Rousseff - e de seu vice Michel Temer, segundo o jornal da capital federal. Sem comparações, gente, por favor.

Aos que não conhecem, House of Cards se passa fantasiosamente em Washington D.C. - capital norte-americana. Lá, o parlamentar Frank Underwood, vivido pelo astro Kevin Spacey, faz de um tudo para ascender politicamente: corrompe, mente, articula, todo tipo de jogo sujo é apicado para sair sempre na vantagem. Num mundo difícil - e nebuloso - como o da politica brasileira, a inspiração no personagem de Spacey vem bem ao caso. Infelizmente, apesar dos políticos tupiniquins comentarem que há um pouco de exagero no toque maquiavélico do enredo, há semelhanças diversas no que vemos lá e aqui. Claro, há políticos e políticos, existe pessoal com a boa vontade de fazer bem e melhor, não é maioria, mas existem.

Outro fã de House of Cards é o presidente da Câmara dos Deputados,o potiguar Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN). Outra prova, citada pelo R7, de que Frank Underwood está na cabeça de nossos políticos é a capa da revista IstoÉ, que ao materializar a postura do deputado federal carioca Eduardo Cunha, em criticar o Governo Dilma, no mês passado, ilustrou o parlamentar com a pose do personagem americano.

A política ainda esteve retratada na telinha entre 1999 a 2006 por meio do seriado West Wing. O experiente ator Martin Seen dá vida a um presidente democrata. O ex-senador Romero Jucá falou a reportagem do Correio que estes tipos de seriado representam a novela da vida comum para eles. Saber se eles se espelham ou não nas práticas apresentadas nas séries é uma incógnita. Nicolau Maquiavel que o diga; ele deve pedir royalties constantemente diretamente do céu - ou do inferno - pelas ações dos profissionais da política exercidas atualmente.

Produção nacional que igualmente deu mídia a política foi 'O Brado Retumbante', de 2012. Produzido pela Globo, o seriado mostrou como um deputado federal chega a ser presidente da República por uma casualidade, entretanto, o jogo político o força a mudar de vida e comportamento em nome do poder.

O presidente norte-americano Barack Obama é fã da série Homeland, da Fox. Um soldado ianque é resgatado no Oriente Médio e volta para casa, chegando a ocupar a Vice-Presidência dos Estados Unidos, porém ele está à serviço da Al Quaeda, ai ai ai...problema!!!!!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Amizade pela metade? Tô fora!!!!


Ninguém curte metade. Somos gulosos. Precisamos de tudo por inteiro, completo, nada faltando ou em prestações. Doses homeopáticas são cruéis, deixam uma agonia infinita e nada boa. Este início de post fez você pensar em inúmeros objetos, ações, sonhos, desejos. Intermináveis sentidos que podem ter outras conotações igualmente sem desfecho. Refiro-me - pelo menos hoje - a amizade. Isso mesmo, amizade pela metade. Como é? Como ela acontece? Pois bem, vamos lá.

Todos temos nossas preferências. Aquelas pessoas que gostamos de ficar por horas e horas de papo, geralmente confidentes, companheiros de aventuras, gente que nos conhece até pelo avesso, sabe tudo, elas são as mais perigosas: são as que mais podem te magoar. É mais ou menos aquele lance de 'pior amigo é um ex-amigo'. Ô se dói! Facas penetrando lenta e friamente em nosso peito costumam provocar menos dor.

Este pessoal, que devotadamente depositamos nosso amor, afeto, carinho, atenção, não te dá garantias que a via de sentimentos tem mão-dupla. Eles não obrigatoriamente também te acham legal e dignos de confiança ou entendem-nos como melhores amigos deles. É uma cadeia simples de se entender: 'seu melhor amigo tem o melhor amigo dele, que não necessariamente é você, e por tabela o dele pode ser outro'...e assim vai.

Ora, frustração é quase certa. Justamente por esperarmos sempre destes amigos do peito algo além, um tempo maior, uma atenção mais apurada. Sobram o ciúme, a ira e a decepção. Lá vamos nós então em busca do amigo-perdido, outro qualquer então, que possa ocupar aquela lacuna. Nos aventuramos em turmas alheias, forçamos a barra certas vezes, apostamos em terceiros, recorremos ao Twitter, Face, Insta, Whats...tudo por um pouco de boa conversa e um olhar mais atento a nossa pessoa.

Ô gente, vamos cair na real, vou passar um papo reto. Sejam atenciosos aqueles que verdadeiramente demonstrem gostar de ti. Percebam quem te protege, quem ali sempre está, aquele que a todo tempo te ampara, te atende, te compreende, te ouve, chora, reza, joga e ri contigo. Só é ter cuidado com as falsidades e interesseiros, o tempo os revelam, simples assim. Não aceite amigo pela metade, ou é ou não é! Não há meio termo. Não permita que lá na frente, num futuro próximo você se pergunte: "Por onde andará fulano?".

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Clamamos por verdade




Quando se fala nos 50 anos do Golpe Militar remetemos a uma gama infinita de assuntos que clamam por elucidação desta lacuna histórica de informações sobre os anos repressivos. Esta é a função da Comissão Nacional da Verdade, como também das comissões estaduais com este mesmo intuito. Fruto de uma apuração séria e comprometida, a Comissão Nacional da Verdade achou um dos grandes algozes do regime. Claudio Guerra, delegado de Polícia responsável pelo desaparecimento de centenas de corpos de revolucionários. Ele vive atualmente em Vitória, no Espírito Santo.

O canal GNT levou ao ar na noite da terça-feira, 1º de abril, um documentário esplêndido ilustrando a busca por redenção do ex-anjo da morte, Claudio Guerra. Com o livro Memórias de uma Guerra Suja, o ex-agente da repressão mostra como atuava e servia ao regime militar. Guerra era responsável pelo treinamento e criação de grupos paramilitares para identificar, caçar e matar agentes da resistência.

Após ser condenado a 42 anos de prisão por outros crimes, não pelas atrocidades cometidas entre 1961 e 1985, Claudio Guerra, no cárcere, 'encontrou Jesus' e se diz arrependido do passado sanguinário. Bem, tirem suas próprias conclusões. Porém, uma informação do documentário me chamou a atenção: que os grupos secretos paramilitares de execução ainda existem; são deles que Guerra têm medo.

O ex-delegado já prestou depoimento na Comissão Nacional da Verdade, porém o teor dele será conhecido apenas na segunda metade deste segundo semestre. Em Alagoas, a Comissão da Verdade segue pegando depoimentos, mas a mídia local não dá valor, não noticia, talvez por não conhecer a importância desta apuração, visto que os profissionais em atuação não conhecem o peso deste tema. Gente, é um alento para famílias inteiras conhecer um passado esquecido. Entes queridos jamais encontrados por pais, filhos e afins. É uma violência sem tamanho. A ditadura foi um fato histórico marcante por demais para nosso modo de vida hoje.

Para as famílias alagoanas, a Comissão pretende desvendar o que aconteceu com Jayme Miranda e Manoel Lisboa, por exemplo, isto citando apenas os mais conhecidos. Os restos mortais de Lisboa já estão localizados e foram devidamente devolvidos a família. A verdade sobre os restos mortais do jornalista alagoano Jayme Miranda ainda está sendo investigado. O sargento Marivaldo Chaves informou, em entrevista à Veja, disse que Miranda foi torturado, morto e seu corpo foi esquartejado, jogado em seguida no Rio Avaré, em São Paulo.

Nossa imprensa, neste sentido me envergonha, pois não está alinhada com a mídia de outros estados que estão a todo vapor de olho neste estudo. Lamentável! Alagoas fica numa ilha histórica. Quando fui editor do caderno de Política, do jornal Tribuna Independente - Maceió/AL -, dava com muito prazer este espaço e contribuição para a história brasileira.

Espero agora que as comissões da Verdade provoquem a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que também fechou os olhos para a ditadura. Hoje, a Confederação dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu desculpas pelo apoio ao Golpe. Novidades vêm por aí.... 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Tem gente que sente falta...



Nesta mesma data, há uns 50 anos, estávamos vivendo um momento de exceção. Tempos de chumbo, inimagináveis para quem nasceu de 1985 pra cá. Sou da geração de 1980, tudo bem, mas nem minha curiosidade, minha leitura, filmes ou demais relatos podem dar a noção exata do que o país viveu por 21 anos com os militares no poder. Daí vem meu interesse. Tudo aquilo que não é fácil, me atiça e me provoca a buscar sempre mais informação.

Mas meu post de hoje é para lamentar o óbvio. Muitos do que viveram sua juventude ou idade adulta durante a ditadura sentem falta daqueles dias negros. Sim, pasmem! E gente comum, que anda nas ruas, livres e soltas, vão ao cinema, enfrentam fila e tudo mais. E foi justamente em uma fila de uma casa lotérica que uma jornalista amiga - Andrezza Tavares, repórter de Política do jornal Tribuna Independente, de Maceió/AL - relatou ao retornar a redação.

Ao tentar pagar um boleto bancário, a jornalista foi obrigada a ouvir um senhor de idade a esbravejar reclames mil contra a democracia no Brasil, em uma fila cumprida da casa. O cidadão estava revoltado com a demora na fila e soltava: "Na época da ditadura não tinha isso. Era outra coisa". A colega não soube explicar na verdade qual a causa da cólera do ancião, mas nada pode justificar tamanha blasfêmia.

A manifestação do senhor desconhecido deve ser recorrente em diversos rincões e capitais brasileiras. Muita gente ainda deve sentir falta daquele clima de tensão extrema e terror. Não existia essa liberdade de andar por aí, simples assim. Falar? Necas; omitir opinião? Vestir diferente? Jamais!!! Não é história ou lorota da imprensa, exagero ou algo assim. Tudo era proibido mesmo. De certo em alguns locais sentia-se mais os efeitos da repressão. Há poucos relatos, por exemplo, de protestos e caçadas, perseguições em solo alagoano.

E ainda há pessoas que negam o ocorrido, como o historiador Marco Antonio Villa. Calmaê! Vi que muitos rotularam logo Villa de tucano, serrista. Bem, aí já denota uma crítica partidária, que não vem ao caso. Os argumentos do historiador se limitam a dizer que o Brasil apenas ficou por anos com um governo não eleito pelo povo, e só!!!! Avááááááá....com todo respeito. Mas como estamos, graças a Deus, em dias de 'paz' e democracia ele pode dizer o que bem entender, resta a saber se vamos aceitar ou não.

Tenho certeza que diferentemente deste senhor da casa lotérica, apesar de não ter vivido nos tempos de chumbo, não sinto falta alguma deste tipo de regime. Eu não vivi, ok, ok, ok, mas não me orgulho de ter na história de meu país uma mancha como tal. Torturas, mortes, corpos jamais encontrados, violações dos direitos humanos, políticos e civis, cassação de mandatos eletivos, enfim. Tudo em nome do Estado, tudo contra uma possível 'invasão' comunista no Brasil. Ora essa!!! Graças ao apoio do governo ianque ficamos nas trevas por 21 anos.

Um preço alto o Brasil pagou entre 1964 até 1985 para se livrar de um regime comunista. Fontes contam que guerrilheiros comunistas tinham planos para invadir o Brasil, transformando a nossa terrinha em uma segunda Cuba. A visita de Che Guevara, a ascensão de Fidel Castro em Havana, uma possível queda do presidente João Goulart pelo lado vermelho do planeta, todos estes eram argumentos apresentados em prol do Golpe Cívico-Militar. Cívico por que o mandato presidencial foi cassado ainda com Jango no Brasil. Militar, já sabem, com o derretimento do Estado Democrático de Direito por parte das forças militares.

Como reza a cartilha do jornalismo, não poderia dar apenas o lado revolucionário. O modelo econômico utilizado pelos presidentes verde-oliva foi responsável por uma modernização conservadora, que desenvolveu as cidades em detrimento a concentração de renda e exclusão da classe operária, provocando a conhecida favelização, mas uma modernização da nossa indústria e amadurecimento de nossa economia. Vale lembrar que até a Igreja Católica era a favor do regime, assim como parte das classes A e B, que temiam os revolucionários.

O debate é longo e muito legal. Amanhã tem mais, prometo. Mesmo assim não sinto falta alguma da ditadura.