domingo, 17 de janeiro de 2010

Rei do Suspiro alagoano oferece muito mais do que guloseimas


Dedicação, empenho, trabalho duro e humildade são apenas alguns dos ingredientes que Luis Eudes da Silva apresenta em sua vida de luta e amor pelo que faz


Quem já frequentou os bares e restaurantes da orla marítima de Maceió certamente já se deparou com um senhor de terno e gravata, oferecendo uma recheada bandeja com quitutes nordestinos. Luis Eudes da Silva, ou simplesmente, o Rei do Suspiro, é mais um personagem louvável para ganhar o título de alagoano Nota 10.


Luis Eudes da Silva, maceioense de 56 anos e pai de quatro filhos, é uma das maiores expressões do sucesso pessoal por meio do trabalho duro e dedicação. Há aproximadamente 15 anos, o ex-agente de seguros e ex-professor de ensino religioso trocou a vida rotineira de salas de aula e reuniões para percorrer os bares e restaurantes mais requintados da capital alagoana, comercializando broas de goma e suspiros.


O feeling empresarial do Rei do Suspiro o chamou para o ramo das guloseimas depois de uma situação inusitada. Marlene Calixto, esposa de Luis, é a cozinheira responsável pela produção das broas e suspiros desde sempre, porém, inicialmente, o marido não participava do negócio. Certo dia ele teve que fazer um favor a sua companheira. “Como minha esposa fazia e vendia, certa vez fui fazer uma entrega para ela numa lanchonete, e uma criança me pediu um suspiro. Eu dei. Rapidamente ela comeu e pediu outro”, lembrou.


Segundo Luis, ao observar a garotinha saborear o doce, ele soltou: “Esse negócio é bom”. Foi então que Luis Eudes começou a andar por aí de bermuda e chinelo vendendo de bar em bar as broas e os suspiros. “Nenhum estabelecimento comercial me abriu as portas naquele tempo”, recorda, emocionado.


Como todo bom empreendedor, o futuro do Rei do Suspiro começara a se desenhar e maquinar ideias mercadológicas. Driblando os obstáculos e a negativa de muitos, Luis começou a aplicar a estratégia da boa conversa, do calor humano, do respeito e articulação comercial, o autêntico ‘boa praça’. Espertamente, ele pedia para o suposto comprador provar seu produto sem compromisso e deixava na mesa para ele pensar. “Muitos gostavam e compravam mesmo”, destacou. Daí o empreendimento começou a crescer.


Não satisfeito com o resultado de suas vendas, o empreendedor teve mais uma sacada interessante. “Eu já atuava profissionalmente de terno e gravata, nas seguradoras e escolas particulares de Maceió, e então trouxe esse hábito para as ruas. Deu certo”, comemorou. A mudança começou quando ele adquiriu uma calça preta, três camisas brancas e uma gravata. “O negócio começou a andar e as vendas aumentaram”, diverte-se.


Atualmente, já com toda a indumentária formal — terno, gravata e tudo que tem direito — toda a produção diária de broas e suspiros — 200 pacotes — “é vendida sem fazer esforço”, diz. Ele orgulha-se de ser o único ambulante que tem acesso livre nos mais sofisticados bares e restaurantes da área nobre da capital alagoana. Os preços de suas delícias estão tabelados da seguinte forma: os sacos com suspiros são comercializados por R$ 5. Já os recipientes com broas variam (de acordo com a quantidade) entre R$ 5 e R$ 10.


“Tem muito gringo e até alagoano mesmo que compra porque estou bem aparentado. Prova que o visual é fundamental na abordagem ao cliente”, aprendeu o Rei do Suspiro.


Exportando — Como Maceió é uma cidade com grande efervescência turística, os produtos do Rei do Suspiro ganharam o país. Turistas de todas as partes do Brasil e do mundo degustam e compram os doces feitos por dona Marlene Calixto. Articulado, Luis Eudes envia sua produção, via Sedex, para clientes cativos de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “Vendo a partir de um quilo”, ressalta.


De seis anos para cá, os resultados começam a aparecer. Luis começou seu negócio com um forno e uma batedeira comum e atualmente ele dispõe de dois fornos industriais e duas batedeiras industriais. Com o nome formado na praça, as broas produzidas pela família já são distribuídas em supermercados da Jatiúca, Ponta Verde e Aldebaran.


Dedicação premiada — Além do retorno financeiro, o Rei do Suspiro começou a ganhar um reconhecimento social pelo seu trabalho. Por cinco anos consecutivos, seus doces são eleitos como os melhores de Maceió, através de eleição promovida pela revista “Espia”, de Maceió. Já neste dia 29 de janeiro, Luis vai ganhar novo certificado da revista por distribuir por aí, além de quitutes, a simpatia e o orgulho do trabalho bem feito. Como prova de sua popularidade, ele já tem até duas comunidades no Orkut: O homem do Suspiro e Seu Eudes do Suspiro.


Sempre quando há exposições e feiras na capital, seu Luis é presença certa com seu stand e suas delícias. E para espalhar ainda mais seu legado, ele está preparando um livro de receitas utilizando como base dos pratos os suspiros e broas já tão famosas.


Em se tratando de rei, a majestade em Luis Eudes se representa na persistência, na perseverança, na humildade e no amor ao próximo. O Rei do Suspiro não é nenhum magnata com fartos recursos. Ele está ‘namorando’ um carro próprio para facilitar seu deslocamento, pois atualmente ele aluga os serviços de um taxista para acompanhá-lo na labuta diária. Luis, nessa peregrinação, encontra espaço para a benevolência e nas mais recentes festas de fim de ano, distribuiu cestas básicas na comunidade da Aldeia do Índio, no Jacintinho, onde reside.


Com gestos contidos e discretos, Luís fala de sua vida com a simplicidade de um monarca. Sonhador como ele só, mas empreendedor como poucos, disse que pretende adquirir um terreno para erguer um galpão e assim abrigar melhor seu estoque e, por tabela, sua produção.


De sol a sol e nas noites da quente Maceió, Luís não se cansa de servir de exemplo ao povo alagoano. Perguntado sobre qual a lição que a vida lhe deu, surge no canto do olho de nosso personagem uma gota de lágrima. Ao responder, respira fundo e tenta explicar. “Na vida não podemos desistir de sonho algum. Mesmo com as dificuldades, devemos persistir”.


Para finalizar o breve relato da rica trajetória do Rei do Suspiro alagoano, Luis Eudes dá uma dica a seus conterrâneos: “O covarde nunca começa, o perdedor nunca tenta, o vencedor nunca desiste”, ensina.


A matéria está publicada na Agência Alagoas (http://www.agenciaalagoas.al.gov.br/)

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