terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A marca da intolerância


A intolerância religiosa deixou sérias e profundas marcas na história alagoana. Poucos sabem de fato como foi o 2 de fevereiro de 1912. A data ficou marcada com o sangue e com a intransigência de leigos a respeito das religiões afro-brasileiras. O Quebra de Xangô - como ficou conhecido - foi quando as forças desertoras da polícia e, em seguida, as forças oficiais do Estado de Alagoas baniram das terras caetés a manifestação de cultos afros.

Naqueles dias, a capital alagoana, Maceió, estava num clima de guerrilha. Muitos policias militares tinham se desligado do Estado em revolta ao governador Euclides Vieira Malta. A violência assolava as ruas. O vandalismo nas repartições públicas era comum. Porém, era início do mês festivo de Carnaval, e blocos de ruas se misturavam com manifestações impondo a desordem e o caos. Tanto é que o próprio governador tinha se exilado em Recife (PE).

Foi então que no dia 1º de fevereiro, o sr. Manuel Luiz da Paz - que de paz num tinha nada -, comandava o Clube dos Morcegos, um tradicional bloco carnavalesco formado por oficias militares, resolveu por insatisfação e revolta contra o governador, invadir o terreiro de candomblé de Chico Foguinho, antes localizado no bairro da Levada, próximo a sede de seu bloco.

O sr. Manuel invadiu o terreiro, pois segundo diziam, o governador Euclides Malta era protegido por uma entidade do candomblé. E o daz vez foi o de seu Foguinho. A multidão enfurecida entrou no terreiro, quebrou e queimou tudo o que via pela frente. Adornos, santos, vestimentas, objetos sagrados, enfim, nada sobrou.

A zombaria era tamanha que os objetos sequestrados dos terreiros eram exibidos no meio da multidão e no cortejo que se formou em seguida. O pior ficou para a mãe de santo Tia Marcellina. A religiosa era acusada na época de promover orgias e sacrifícios em nome do governador Euclides Vieira Malta. Após o ataque em seu terreiro, Tia Marcellina faleceu sob os golpes de espadas e sabres dos militares.

Pais e mães de santo da época foram violentados moral e fisicamente. A milícia formada não perdoou ninguém. E no dia 2 de fevereiro seguiu para os demais centros afro em Alagoas, agora com a legitimidade do Estado, que para ganhar a simpatia popular autorizou as invasões.

A partir dali, as orações e rituais afros eram realizados silenciosamente, sem o uso de tambores ou atabaques. Os pais e mães de santo sobreviventes foram para Pernambuco ou Bahia.

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