terça-feira, 13 de outubro de 2009

A força da fé


O poder da fé realmente é capaz de tudo. Sempre nos meses de janeiro, os fiéis do município de União dos Palmares (AL) demonstram o tamanho desta fé, e ainda o peso, literalmente, de uma tradição centenária.

É no primeiro mês do ano que os moradores palmarinos apresentam sua devoção à Nossa Senhora Maria Madalena. Segundo antigos moradores da cidade, o costume vem desde a escravidão quando os senhores de engenho enviavam para a mata os escravos para cortar a maior tora de madeira para glorificar a colheita do ano terminado e levar boa sorte a próxima safra.

Antigamente apenas os escravos carregavam o enorme tronco pelas ruas da cidade em devoção à Nossa Senhora Maria Madalena. O tronco era fincado à frente da Igreja Matriz da cidade. E dava assim início às festivades da santa na cidade. Ao decorrer dos anos o hábito virou tradição, e todas as classes sociais se uniam num ato de fé para homenagear e agradecer às graças alcançadas durante o ano.

Como dizem os antropólogos, uma procissão religiosa é o maior ato de nivelamento social do país. Desde a colonização, negros, brancos, pobres, ricos, todas as classes sociais se ajoelham e seguem o rito clerical. Não há diferença. E hoje assim acontece. União pára.

É algo indiscritível. A procissão se inicia ainda na área rural da cidade, quando centenas de pessoas erguem um gigantesco tronco de madeira em um só movimento de força conjunta. É um exercício de coletividade. Todos devem erguer o mastro de uma só vez, e assim sustentar. O ritmo é frenético. As amarras e barreiras sociais são deixadas de lado, e quem dita o ritmo é a fé do povo.

É preciso correr. O peso do mastro nos ombros deixa hematomas e feridas. Quando você cansa, outra pessoa que você jamais viu na vida estende a mão e te sustenta, até você dar a vez e permitir que outro fiel sustente também o tronco. E assim se revezam.

Já vi gente entrando em transe. Nós somos levados pela força e pela fé alheia. O aperto, o empurra, empurra, não se percebem. A oração parece que nos protege. A apoteose é quando o cortejo entra na praça principal da cidade. É uma comoção só. Não há quem não se emocione. Uma multidão espera os bravos carregadores. E somos ovacionados quando conseguimos fincar o mastro no chão. Mais um ano as bençãos sobre a cidade estão garantidas, segundo as tradições.

Sim, eu participo desta manifestação cultural desde 2004. E recomendo, é um gesto de fé que precisamos fazê-lo, de uma forma ou de outra. Cada um ao seu modo faz algo para se aproximar de Deus. O sacrifício é um deles. Revigorante. Você fica pelo menos uma semana com os ombros doloridos, mas vale a pena...Confiram em 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário